sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Carta Capital diz que Meirelles sai "em breve"

Carta Capital trouxe uma capa surpreendente nesta sexta-feira, 16/1 (http://www.cartacapital.com.br/): "E lá se vai o czar do BC", com a chamada: "Henrique Meirelles deixa o cargo, após seis anos de reinado pró-mercado" e a indicação de uma série de artigos sobre a sua passagem no comando do Banco Central. O lead da matéria diz o seguinte: "Henrique Meirelles já comunicou ao presidente Lula que deixará o comando do Banco Central em breve, depois de seis anos no cargo. O goiano de Anápolis, de 62 anos, passará um curto período de quarentena e muito provavelmente disputará o governo de seu estado nas eleições de 2010. Seu sonho é um dia subir a rampa do Planalto e tornar-se presidente da República. A conferir". Depois a matéria segue fazendo um balanço, altamente crítico, da atuação de Meirelles no BC. A única novidade da matéria é que Meirelles teria comunicado a Lula que a saída se dará "em breve", pois sua intenção de sair e suas aspirações futuras já foram amplamente divulgadas e há muito tempo.

Carta Capital, aparentemente, tem bons canais de comunicação com o Palácio do Planalto. Um dos sócios da editora que a publica, o respeitável economista Luiz Gonzaga Belluzzo, a quem muito admiro, é conselheiro econômico do presidente e apontado, na imprensa, como eventual sucessor de Meirelles - função incompatível com a de presidente do Palmeiras, caso seja eleito no próximo pleito que está para acontecer no clube. O jornalista Mino Carta, meu mestre nos 7 anos em que trabalhei na pioneira ISTOÉ, também tem portas abertas no Planalto.

Faço essas considerações porque a capa me chamou muito a atenção. O assunto poderia ter sido liquidado em uma notinha, pois a informação quente é o "em breve". Mas foi transformada em capa, com a especulação sobre se o sucessor será um economista da escola desenvolvimentista e somada a uma série de artigos de críticos habituais do BC e de suas últimas gestões. Registre-se que a capa sai no momento em que há intenso debate sobre a política de juros do banco vis à vis a crise mundial e a vontade do Planalto de que o Brasil continue a crescer 4% ao ano. E às vésperas de reunião do Copom para decidir justamente se começa a baixar a taxa Selic neste mês ou não.

O prazo embutido no "em breve" é uma informação muito delicada. Há toda uma discussão no ar sobre qual deverá o limite das medidas de apoio financeiro do governo ao crescimento da economia face ao risco de comprometer as contas públicas e, consequentemente, a confiança dos investidores nacionais e internacionais nos rumos da economia. São esses os pratos da balança da saúde da economia brasileira nos próximos meses e anos e o BC é um elemento crucial do seu equilíbrio. Trocar seu presidente neste momento será uma fonte de incertezas, a menos que a sucessão seja feita com rapidez, precisão e ampla explanação de propósitos e definição de políticas por parte de seu sucessor.

Mino Carta costuma queixar-se de que as capas de CartaCapital não repercutem na grande mídia, não dando sequencia aos temas nelas debatidos. Não sei o que vai acontecer, mas esta capa deverá ter repercussão por si mesma, pois o assunto é delicado.

Vamos ver.