quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Lula teria muito mais do que azia com Helen Thomas

Reproduzo aqui o comentário que publiquei na Coluna Cenários, que sai às terça-feiras no site Jornal da Comunicação Corporativa (http://www.megabrasil.com.br/):

Nestes tempos em que tanto se escreve sobre o presidente Lula ter dito a Mário Sérgio Conti, em entrevista à revista Piauí, que “ler a imprensa lhe dá azia”, vale pinçar a história de uma jornalista norte-americana Helen Thomas, sobre a qual vi um documentário recentemente na HBO.

Considerada liberal, Helen, hoje com 88 anos, é membro da Sala de Imprensa da Casa Branca desde o início da gestão de John Kennedy, em 1961, tendo coberto todos os presidentes dos EUA desde então, até George W. Bush. Teve um lugar cativo na primeira fila do Press Room, com placa com seu nome e não da empresa para a qual trabalha, como é o caso de outros jornalistas. Durante 40 anos teve o privilégio de encerrar as coletivas presidenciais dizendo “Thank you, Mr. President”(Clique aqui: http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://uglydemocrats.com/democrats/United-States/Helen-Thomas/Helen-Thomas-Zombie.jpg&imgrefurl=http://uglydemocrats.com/democrats/United-States/Helen-Thomas/&usg=__Q7lxSYje0-MwX8nznCoAYUdw8ag=&h=408&w=581&sz=43&hl=pt-BR&start=3&sig2=7eckLGZaklEtkMhJqt7sNw&um=1&tbnid=TERXov57AwPnnM:&tbnh=94&tbnw=134&ei=ckpuSZ_-BdaQmQfdyICQCw&prev=/images%3Fq%3Dhelen%2Bthomas%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%26rlz%3D1T4GGLR_pt-BRBR255BR255%26sa%3DX).

Hoje colunista da Hearst Newspaper, foi durante 57 anos jornalista da United Press International (UPI), tendo trabalhado 40 anos como correspondente na Casa Branca, função que lhe permitiu chegar a chefe do escritório da agência na sede do governo norte-americano. Deixou a UPI quando a agência foi comprada pelo Reverendo Moon.

Foi a primeira mulher diretora do National Press Club, primeira mulher membro e presidente da Associação dos Correspondentes da Casa Branca e a primeira mulher membro do Gridiron Club, fundado em 1885, a organização jornalística de maior prestígio em Washington. Em 1998 recebeu o “International Women's Media Foundation Lifetime Achievement Award” e foi agraciada pelo então presidente Bill Clinton e por Hillary. Clinton com o primeiro “Helen Thomas Lifetime Achievement Award”.

Helen perdeu sua cadeira privilegiada no Press Room durante o governo de George W. Bush, que ao contrário de seus predecessores não lhe dirigia perguntas. Apesar da civilizada e agradável convivência social que teve com todos os presidentes que cobriu, Helen nunca deixou de exercer o seu papel de jornalista inquisidora, colocando para os primeiros mandatários americanos questões diretas e objetivas sobre qualquer tema que julgasse de interesse para a sociedade americana. Por isso, W. Bush, que nunca gostou da imprensa, a despachou para o fundo do Press Room.

Vi, num vídeo, que ela acabou de recuperar seu lugar na primeira fila do Press Room e, apesar da idade, pretende agora incomodar Barack Obama, de quem já disse respeitar muito e entender que assumirá o cargo com desafios que nenhum presidente com quem conviveu teve de enfrentar. Mas, nem por isso, deixa de ter dúvidas sobre suas decisões. “Não entendo porque está recorrendo a tantos ex-auxiliares de Clinton”, diz ela no vídeo, alegando que as escolhas se chocam com as intenções de renovar, alardeadas por Obama durante a campanha eleitoral.
Enumero a seguir algumas de suas frases sobre presidentes e suas atitudes, que no ambiente das relações entre imprensa e primeiros mandatários no Brasil certamente provocariam muito mais do que azia.

Sobre George W. Bush: "O pior presidente do país. É o pior presidente da história americana”
“Eu me censurei durante 50 anos, enquanto era repórter. Agora eu acordo e me pergunto: a quem devo odiar hoje?”

“Eu nunca cobri um presidente que quisesse verdadeiramente ir à guerra. A política de guerra preventiva de Bush é imoral – ela legitima o ataque dos japoneses a Pearl Harbor. Eles não aprenderam nada com a guerra do Vietnã”

“Bush concedeu apenas seis entrevistas coletivas, o único fórum na nossa sociedade onde o presidente pode ser questionado”

“Grandes presidente têm grandes metas. Das minhas lembranças da Casa Branca, Kennedy foi o mais inspirado, Johnson forçou a ampliação de direitos de voto e de uma política pública para o setor habitacional; Nixon será lembrado pela sua viagem à China e pela renúncia; Ford por nos ajudar a nos recuperarmos de Nixon; Carter por fazer dos direitos humanos o centro de sua política externa; Clinton manchou o Salão Oval”.

“Discordar é patriótico!”.

Um conselho a jovens jornalistas: “Lembrem os políticos de que eles são servidores púbicos. Lembrem que todas as perguntas são legítimas. E não desistam, sempre há uma fresta. Sempre há alguém que está interessado em salvar o país”.

“Todos os presidentes reclamam da imprensa”.

‘Eu sei que a menor distância entre dois pontos é uma linha reta. E é assim que eu pergunto. Mas eles se incomodam com isso. Eu só quero fazer uma pergunta incisiva”.

“Todo presidente odeia a imprensa. Todo presidente pensa que todas as informações que chegam à Casa Branca são exclusivamente suas, mesmo tendo prometido uma administração transparente durante a campanha eleitoral. Mas há alguns que são mais chegados a segredos do que outros. Alguns querem manter tudo em segredo.

“As primeiras damas são, obviamente, fortes mentoras e conselheiras dos seus maridos. Elas são seu último refúgio”.

Quem assistiu, na segunda-feira (12/1), o noticiário de TV sobre a última coletiva de imprensa concedida por W.Bush pode vê-la sentadinha, velhinha e alquebrada, ali na primeira fila do Press Room. Sua volta ao local de destaque na primeira fila ou é uma gentileza típica de transições entre governos ou uma armadilha de W.Bush para expor Obama mais contundentemente ao ceticismo de Helen Thomas.

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