Cláudio Abramo foi um dos jornalistas mais importantes de seu tempo. Diretor de Redação de O Estado de S. Paulo e da Folha de S. Paulo marcou a imprensa paulista e brasileira com a sua passagem por esses jornais, nos quais imprimiu dinamismo e modernidade. Além de jornalista, era de esquerda, um batalhador da liberdade e da justiça social.
Quando Mino Carta fundou o Jornal da República, no início dos anos 80, convidou-o para ser articulista na primeira página do diário, pois Abramo estava na geladeira na Folha de S. Paulo por pressão do regime militar. Ele comentava fatos políticos nacionais e internacionais em uma saborosa coluna à esquerda da primeira página do jornal, que se inspirava em um dos melhores diários do mundo, o La Reppublica, de Roma.
Um dia, Abramo enfureceu-se com algum episódio da política brasileira, não me lembro qual, provavelmente algo que atrasaria nossa caminhada em direção da democracia, e decretou que não mais escreveria sobre o tema. Daí em diante, só escreveu sobre política internacional, o que fez sua coluna perder parte de sua força e de sua repercussão.
Mino Carta terá lembrado desse episódio ao decidir, nesta semana, deixar de escrever em seu blog e a coluna que abre semanalmente as edições de Carta Capital?
Os motivo da decisão: a desilusão com a eleição de José Sarney e Michel Temer para as presidências do Senado e da Câmara dos Deputados, que ele classificou como "a volta do Centrão", em plena presidência de Lula; e a decisão do Ministro da Justiça,Tarso Genro, de dar asilo político a Césare Battisti, ignorando, segundo Mino, que a Itália é uma democracia desde o fim da IIGuerra Mundial, o que não justifica as suas atividades terroristas, muito menos os assassinatos de que é acusado.
Mino Carta também é um dos profissionais mais importantes, inovadores e marcantes do jornalismo brasileiro. Já escrevi aqui que tive o privilégio de trabalhar e aprender com ele na primeira fase da ISTOÉ. Na época, fui um dos jornalistas que mais cobriu as greves do ABC pela ISTOÉ sempre com o estímulo entusiasmado de Mino, que encantou-se com a liderança e as perspectivas politicas de Lula. Hoie, nem sempre concordo com as suas posições, mais em função de suas ênfases peninsulares do que de conteúdos.
O seu silêncio será gritante e incomodará tanto quando o de Cláudio Abramo.
Leia o seu texto de despedida em: http://www.blogdomino.com.br/
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