segunda-feira, 11 de maio de 2009

EXPORTAÇÃO DE PÉ DE OBRA INFANTIL


Triste o tema da capa da Veja desta semana:
Gol de Ouro
O milionário negócio de descobrir, treinar e vender para a Europa "craques-bebês" brasileiros, une clubes, famílias e investidores.

Esse conluio tem um quê de exploração de mão de obra, no caso pé de obra, infantil, juvenil, até a idade adulta.
Claro que muita gente se dá bem, inclusive os próprios meninos, quando viram craques bem sucedidos.

Mas esse esquema tem, a meu ver, uma série de distorções.
A primeira é o direcionamento da vida de um garoto para uma determinada atividade, tolhendo outros caminhos que ele poderia trilhar com sucesso, também. Há quem dirá que, para a maioria dos meninos que entra num esquema desses, não há outro caminho senão o futebol. Será verdade? Isso não será resultado da pobreza de oportunidades de educação no Brasil?
Esclareço que nada tenho contra o futebol, muito pelo contrário. Sou apenas contra o dirigismo do futuro de uma criança antes que ela tenha capacidade de discernir o que quer da vida.
Dirigismo que, na maioria das vezes, é praticado pela família, que vê num filho, não um ser humano que pode ser feliz, mas tão somente uma possibilidade de enriquecimento para pais, irmãos e dependentes.

E os empresários de ofício? Esses então têm um inescapável papel de exploradores. Eles dizem que ajudam as famílias, são artífices de oportunidades que jamais surgiriam, etc,etc, mas na verdade se locupletam e tentam controlar a carreira dos empresariados até a última gota de suor. Vagner Ribeiro, para mim, é a personificação desse personagem. E o que dizer desses Centros de Treinamento como o Desportivo Brasil, citado na matéria da Veja, que raptam os meninos de seu convívio social natural? Será saudável?
Indo além dos aspectos pessoais e humanos, é doloroso também que todo esses esforços se dirijam a exportar os meninos, colocá-los em times do exterior. Exportamos pé de obra, como se fossem commodities, em vez do espetáculo futebol brasileiro.
Procuramos encher o Manchester, o Milan, o Real Madrid, etc,etc,etc, de craques em detrimento de Vasco, Santos, São Paulo, Palmeiras, Grêmio, Corinthians. Enchemos os olhos de torcidas alienígenas e sacrificamos o futebol jogado no Brasil.
Os clubes brasileiros fecham esse circuito. Mal administrados (às vezes por incompetência, outras por má fé) vivem sempre à beira da falência e precisam vender jogadores para o exterior para fecharem os seus caixas. E para encher os bolsos de dirigentes com porcentagens do negócio, é claro.
Ao embarcarem para o exterior, esses meninos serão felizes? Adriano, de volta para o Flamengo, talvez tenha exteriorizado essa infelicidade, num momento de fragilidade psicológica. Talvez haja muito mais gente como ele sentindo saudades imensas do Brasil, mas enrustidas.
Propositadamente ou não, o garoto Nilson, que ilustra a capa de Veja, não está com uma cara nem um pouco feliz.
Três meninos do meu Santos, são incluídos na lista dos candidatos à exportação Neymar (17 anos) , Chera (14) e Luiz Henrique (16). Chera e o pai sentam perto de mim nas cadeiras cativas da Vila Belmiro. Escuta os xingamentos que os torcedores dirigem a Neymar sempre que o menino erra uma jogada, o que tem acontecido muito, pois ele não está rendendo bem. Fico imaginando como o Chera se sente quando ouve esses xingamentos, que amanhã poderão ser para ele.

Não sei como ele se sente. Mas sei como eu me sinto, sabendo que esses jovens jogadores darão muito pouca alegria a mim e aos santistas, pois logo irão embora: uma grande frustração.
Pelo jeito, só uma vez na vida se tem o privilégio de ver um Pelé jogar 18 anos pelo nosso time do coração.


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