terça-feira, 12 de maio de 2009

LEITORES E ANUNCIANTES

Quem sustenta os jornais os leitores ou os anunciantes?
Em artigo publicado em O Estado de S.Paulo, sob o título “Por que precisamos de jornais”, Eugênio Bucci, que dispensa apresentações, comenta entrevista de Gay Talese ao jornal paulistano em que o jornalista norte-americano comenta a crise dos diários impressos em todo o mundo.

A íntegra do artigo pode ser lido no Google no endereço (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090507/not_imp366697,0.php). Mas quero concentrar meu comentário no seguinte trecho do artigo:

“Mas, aí, surge outro problema: como essas versões eletrônicas vão repor as receitas que vinham do papel? No ambiente da rede, como todos sabem, o conteúdo dos jornais é oferecido de graça, ou praticamente de graça. Será que o jornalismo independente poderá sobreviver se as notícias circulam de graça? Ele sobreviverá apenas com os recursos de anunciantes?

A instituição da imprensa depende do apoio direto dos cidadãos para se manter independente. Os principais jornais do mundo só prosperaram, nos séculos 19 e 20, porque tinham, na base de sua independência editorial, um negócio também independente, baseado na sustentação que recebiam dos leitores, que sempre pagaram pelas assinaturas e pelos exemplares avulsos. O jornalismo impresso de qualidade não buscou alicerce na publicidade, mas no financiamento direto do público. Agora, se os sites jornalísticos passarem a depender só de anunciantes, o que acontecerá com a independência editorial?Tudo bem: é verdade que as emissoras de rádio e televisão vivem exclusivamente de anúncios e nem por isso precisam abrir mão da independência. Mas elas sempre existiram num ambiente em que os jornais independentes, ao menos até aqui, ajudavam a fiscalizá-las, a elas também, e essa fiscalização as pressionava para que não traíssem seus compromissos com o público. Desse modo, a instituição da imprensa encontrou um ponto de equilíbrio quando soube manter, ao lado do modelo de negócio das emissoras (cujas receitas vêm exclusivamente da publicidade), o modelo de negócio dos jornais e revistas independentes”.

A preocupação de Bucci é super-válida e aplica-se sobretudo à Internet, um espaço onde a publicidade ainda não achou totalmente seu lugar, e nem todos os portais recebem um volume de anúncios que subsidie lucrativamente sua atividade. Claro que há exceções, mas creio que elas ainda não se aplicam aos portais das grandes casas de mídia impressa brasileiras, como O Globo, O Estadão, a Folha e a Abril, só para citar alguns. Nem às norte-americanas ou européias.

Mas Bucci supervaloriza a força dos recursos advindos da venda avulsa e das assinaturas dos grandes jornais diários. Não tenho números no momento, mas minha vivência na grande imprensa me ensinou que só a venda avulsa e os assinantes não sustentam nenhum dos grandes complexos de mídia impressa atualmente existentes. A publicidade fornece meios substanciais para garantir a lucratividade da mídia impressa.

Além disso, a independência dos grandes jornais diários não advém apenas deles terem um grande universo de leitores. Advém também, e em grande proporção, deles terem um grande leque de anunciantes. Esse grande leque é fundamental para a independência dos grandes jornais diários, pois a eventual pressão de um anunciante se dilui diante da presença dos demais, torna-se desprezível. É por isso que as grandes cadeias de TV também conseguem ser independentes – quando assim desejam.

Feita essa ressalva, creio que a questão do financiamento das versões eletrônicas dos jornais diários só começará a se resolver quando realmente for introduzida a cultura da cobrança por conteúdo. Mas não só. Será preciso que aumente muito o volume de publicidade nos portais eletrônicos dos grupos de mídia hoje predominantemente impressa. Quanto à independência desses portais, quanto maior for o número de anunciantes maior ela será, também.

(Publicado originalmente no Jornal da Comunicação Corporativa - http://www.megabrasil.com.br/)

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