quarta-feira, 13 de maio de 2009

A MISTIFICAÇÃO EM TORNO DA CADERNETA DE POUPANÇA

Guardei esta foto há algumas semanas, esperando a oportunidade de usá-la. É de quando o líder do PSDB na Câmara Federal, deputado José Anibal, apresentou o "Mentirômetro", um placar para apresentar as "mentiras do presidente Lula", segundo as palavras do parlamentar paulista. O troféu do Pinochio é para premiar a maior mentira, classificada como a "mentira do século"

O "Mentirômetro" seria uma das armas que o PSDB pretende usar na próxima campanha eleitoral e no período que ainda resta até lá, aproveitando a inequívoca vocação do presidente Lula de aumentar a importância das iniciativas de seu governo, não raro precedidas pela expressão "nunca antes neste país".

É uma pena que a conversa do governo e da oposição com a população se dê nesses termos e não por intermédio do debate de propostas úteis e benéficas para o país.

Agora mesmo, estamos às voltas com uma mistificação, das duas partes, em torno das mudanças no rendimento da caderneta de poupança.

Desde que foi criada, no fim dos anos 60, a caderneta de poupança tem um rendimento de 6% ao ano mais alguma coisa. Esse alguma coisa já foi a inflação, hoje é a TR.

A caderneta, pela sua previsibilidade, acabou se tornando a grande referência de investimento da população, das classes médias para baixo. É só colocar e deixar o dinheiro lá, ninguém corre riscos. Pode-se dizer que a caderneta de poupança é um dos mitos sagrados do imaginário financeiro da população.

Os juros de 6% foram criados num tempo de inflação e juros altos no Brasil. E não faz sentido que permaneçam nesse patamar com inflação baixíssima e juros só de um dígito. Nesse quadro, o rendimento da poupança teria que ser menor. Ou seja, as regras da caderneta teriam que ser mexidas.

E por duas razões: a primeira é que não faz sentido pagar juros tão altos, se os juros do país estão caindo: segundo, porque se não houver mudanças, a caderneta passará a ser o investimento mais rentável, atraindo o dinheiro de todos os investidores, que deixarão de dirigi-lo a outras aplicações e não comprarão mais títulos do governo, que este precisa, e muito, para se financiar.

Ontem, o governo anunciou o que irá fazer para resolver esse problema. Mas tomou uma decisão torta, que elude a questão, não vai ao centro dela.

Anunciou que taxará com Imposto de Renda as aplicações nas cadernetas em valor superior a R$ 50 mil. Ou seja, torna desinteressante a aplicação de grandes volumes de dinheiro e preserva os 6% que tanto encantam os poupadores populares. Há outros detalhes, mas esta é a essencia da questão.

Na verdade, o governo ficou com medo de mexer no mito sagrado dos 6% e ser taxado de estar prejudicando a população, isto é, os eleitores que irão às urnas em 2010. Não acreditou que a população entenderia as razões reais da mudança, que só imaginaria ter sido prejudicada.

A oposição, na verdade, já tinha optado por essa linha de acusação ao governo. Em recente propaganda na TV, o deputado Raul Jungmann, do PPS, acusou o governo de querer mexer na poupança "como fez o governo Collor", o que é uma inverdade. Veja abaixo:



A decisão tomada pelo governo precisa ser aprovada pelo Congresso. José Aníbal, pelo PSDB, já anunciou que vai combatê-la, alegando que não há garantia de que futuramente o governo não possa taxar valores mais baixos de poupança. Jungmann, do PPS, também já disse que vai votar contra. Ou seja, vão adotar um posição de pura obstrução política só para atrapalhar o governo.

O PT cansou de fazer acusações injustificadas ao governo FHC. O PSDB e o PPS estão adotando a mesma tática.

Quem sai perdendo com isso é a qualidade do debate político, pois a as verdadeiras questões nunca são apresentadas e discutidas perante o respeitável público.

E assim fica difícil nossa democracia se fortalecer.

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