
A recente reunião da Unasul, em que seria discutida a instalação de bases norte-americanas na Colômbia, virou um bate-boca que não levou a lugar nenhum.
O noticiário ressaltou que Lula não teve espaço para exercer o papel de apaziguador das divergências e das discussões, que seria natural para o presidente do maior e mais forte país da região.
Na época, pensei com os meus botões: até agora o Brasil, apesar de seu enorme peso específico na América do Sul, não exerceu de fato o seu papel de líder, pois Lula parece mais empenhado em conciliar conflitos, inclusive com o próprio Brasil, do que impor diretrizes. E não há líder que se afirme se não impuser sua visão, sua orientação, fazendo valer o seu poder - seja econômico, seja diplomático, seja militar, o que não é o caso do Brasil em relação a este último ítem.
Ainda mais se entre os vizinhos há falastrões como o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que tem o objetivo único de instalar o tal do "socialismo bolivariano" em seu país, a qualquer custo, inclusive o militar, não importa a desorganização que esteja promovendo na sociedade local. E seguidores obsessivos como Rafael Corrêa, do Equador, e Evo Morales, da Bolívia, que falam muito mais grosso do que a realidade econômica e social de seus países permite. Sem esquecer da falta de rumo dos governos argentinos.
A reunião da Unasul teria mostrado que sem demonstrações de poder não se exerce o poder.
Lembrei-me desse episódio ao assistir o último "Entre Aspas", programa de entrevistas da Globo News, conduzido por Mônica Valdvogel sobre os acordos militares assinados entre Brasil e França.
O programa esclarece, principalmente, o entorno do anúncio da compra dos aviões Rafale, franceses, pelo Brasil e porque houve um recuo "protocolar" em relação ao que Lula dera por decidido. E conclui que, por intermédio do acordo (que também envolve submarinos, helicópteros, etc) , o Brasil está investindo em seu status de "potência regional" - ou seja, se equipando militarmente para exercer o seu poder, mesmo que sua força tenha mais características disuassivas do que agressivas. Veja o programa aqui
Ao optar pela parceria com a França, o governo Lula, de quebra, marca posição de independência em relação aos Estados Unidos, o que lhe dá maior isenção para exercer a liderança, uma vez que os norte-americanos em geral são parte interessada nas disputa aqui pela América Latina. Além de dar ao Brasil mais liberdade nos conflitos de interesse com os EUA.
Essa busca por maior independência não é nova, nasceu no governo Geisel e teve um de seus pontos altos na assinatura do Acordo Nuclear com a Alemanha e teve como um de seus inspiradores o então chanceler Azeredo da Silveira. Segundo Matias Spektor, Revista Brasileira de Política Internacional, "Durante os cinco anos em que esteve à frente do Itamaraty (1974-1979), o chanceler do Presidente Geisel desengajou o Brasil de sua tradicional relação com três eixos centrais: Argentina,Estados Unidos e Portugal. A nova postura da chancelaria face a esses países possibilitou a mundialização das relações exteriores do país mediante intensa e vasta agenda na América do Sul, na Europa Ocidental, no Oriente Médio, na Ásia e na África". (leia aqui)
É a linha que inspira a diplomacia do governo Lula.
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