Estratégia de Serra vai deixando nervosos tanto aliados como adversários.
(Texto e charge publicados originalmente no Diário da Manhã, de Goiânia)
Pressionado diretamente por Aécio Neves, Fernando Henrique, Sérgio Guerra, democratas (tanto do nordeste como do sudeste), tucanos de várias plumagens, PPS e Alckmin, e também indiretamente por Ciro Gomes e socialistas, petistas de várias correntes e, principalmente, pelo presidente Lula e sua pupila, Dilma Rousseff – maiores interessados em identificar o adversário principal e precipitar a luta sucessória – Serra mantém a pose de esfinge. “Decisão sobre meu futuro político só no ano que vem.”
Em 2002 e 2006 Serra embarcou na aflição de candidato. Na primeira, José Dirceu, Palocci e amigos pessoais de Lula costuraram o fantástico pacto com os banqueiros, que resultou na “Carta aos Brasileiros”, mais as garantias de colocar Meirelles com carta branca na direção do Banco Central, além da promessa de mudar a lei e abrir as torneiras para o lucro fácil do crédito consignado. Toda a vantagem de Serra nas pesquisas foi descendo lentamente para o vinagre. Até Fernando Henrique Cardoso aderiu, embora discretamente, mantendo o manto da isenção – em troca da manutenção de sua política monetária e, muito provavelmente, a tentação de mais oito anos depois de Lula.
Em 2006, o alto comando político do PT nem precisou trabalhar muito. Um ano antes da eleição, Antonio Ermírio de Morais expressou, em artigo na Folha de S. Paulo, a evidente preocupação de alguns grandes empresários paulistas com a repetição do panorama pré-eleitoral de quatro anos antes, e José Serra voltando a despontar nas pesquisas como o mais provável candidato da oposição. “Alckmin nos ouve, Serra não” foi o grito de guerra de Ermírio. A coisa virou e Alckmin se tornou o candidato tucano.Se você fosse Serra, correria novamente o risco de pôr a cabeça de fora antes do tempo?
Enquanto ele estiver calado, Aécio segura a sua natural ansiedade e fica impedido de assumir qualquer compromisso com PT, Hélio Costa, PMDB mineiro e Democratas não-paulistas. Ciro Gomes não sabe se concorre à presidência (com chance de derrotar Dilma no primeiro turno e se tornar o candidato de Lula ao Planalto) ou se aceita a candidatura ao governo de São Paulo e, sem qualquer entusiasmo da maioria do PT, corre o risco de difícil campanha contra o próprio Serra. O presidente Lula também precisa urgentemente saber qual tucano Dilma vai enfrentar. Ele não confia suficientemente em Ciro, para ter certeza de que ele ficaria ao seu lado num segundo turno contra Aécio. Para Alckmin, antever o caminho do companheiro-adversário é fundamental para decidir o que fazer. Até Henrique Meirelles está roendo as unhas e buscando uma bola de cristal: “vou para Goiás, para vice ou fico no Banco e torço para continuar controlando os juros?”
Repito: se você fosse Serra, teria pressa em decidir?
(A íntegra da coluna de Milton Coelho da Graça pode ser lida aqui)
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