Os navios para passageiros são, atualmente, imensos playgrounds flutuantes só para turismo, como este "Oasis of the seas" que está sendo lançado agora ao mar (foto acima). Terá tantas atrações a bordo que seus destinos certamente não farão a menor diferença.
Sou do tempo em que se viajava de navio.
Não eu, que nunca viajei.
Mas embarques e desembarques de navios fizeram parte de minha história de menino santista, nos anos 50/60 (vim para Sampa em 67).
Naquele tempo, os navios vinham da Europa ou dos EUA, a caminho de Montevidéu e Buenos Aires.
Santos, claro, era parada obrigatória.
Minha tia Balbina, uruguaia criada em Buenos Aires, ia todos os anos para a capital portenha, em companhia de seu marido, o Tio Tavo.
Eles embarcavam nos navios da Linha C, italiana, principalmente o Ana C, que vinha do país da bota, passando por Barcelona, Lisboa e quetais.
Nós, eu, meus irmãos, minha mãe e meu pai, de quem ela era irmã, íamos sempre a bordo para nos despedirmos. Era possível acompanhá-los até as cabines. Quando o navio desatracava, dávamos tchauzinhos do cais, e saíamos correndo para ir de carro até a Ponta da Praia, a tempo de ver o transatlântico passar.
Na volta deles, cumpríamos o mesmo ritual. Era muito elegante e para um menino, uma grande aventura.
Em Santos, embarcavam e desembarcavam os viajantes que vinham ou saiam de São Paulo. Lembro que o Jânio Quadros sempre embarcava e desembarcava naquelas suas viagens para a Inglaterra, uma delas depois que renunciou e chegou ao porto pilotando um fusquinha e perseguido por toda a imprensa nacional.
Lembro de um grande desastre da época, o choque entre o Andréa Dória, de passageiros, e um navio sueco quebra-gelo. Eividentemente, o Andréa Dória levou a pior e afundou. A revista O Cruzeiro deu amplas reportagens fotográficas sobre a tragédia. Um jornalista famoso viajava em um camarote na quilha do Andréa Dória. Morreu e perdeu a que seria uma das grandes reportagens de sua vida.
Meu pai, Juan Manuel Serrano, era radio-amador e tinha amigos entre os oficiais de rádio, que também eram rádio-amadores, dos navios da Flota Mercante del Estado, da Argentina. Um deles era Rubem Compiani, oficial de rádio do Rio Jachal, um navio misto, de carga e passageiros, que fazia a rota Buenos Aires-Nova York.
Por conta de uma das intermináveis greves dos estivadores do Porto, frequentes naqueles tempos, Rubem comemorou um Natal lá em casa. Conheci o Rio Jachal de alto a baixo, da casa de máquinas à cabine de comando. Assim, também, o Rio Lujan, outro navio da frota. Até hoje tenho um copo de couro, com o dístico Flota Mercante del Estado (foto abaixo), que era utilizado para lançar dados na sala de jogos do navio. Recentemente, soube que Lucio Costa, o arquiteto que concebeu Brasília, desenhou o projeto do plano piloto da então futura capital, à bordo do Rio Jachal, em viagem de Nova York ao Rio de Janeiro.
Saudades, muitas saudades.
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