quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Saudades do tempo em que se viajava de navio

Os navios para passageiros são, atualmente, imensos playgrounds flutuantes só para turismo, como este "Oasis of the seas" que está sendo lançado agora ao mar (foto acima). Terá tantas atrações a bordo que seus destinos certamente não farão a menor diferença.

Sou do tempo em que se viajava de navio.

Não eu, que nunca viajei.

Mas embarques e desembarques de navios fizeram parte de minha história de menino santista, nos anos 50/60 (vim para Sampa em 67).

Naquele tempo, os navios vinham da Europa ou dos EUA, a caminho de Montevidéu e Buenos Aires.

Santos, claro, era parada obrigatória.

Minha tia Balbina, uruguaia criada em Buenos Aires, ia todos os anos para a capital portenha, em companhia de seu marido, o Tio Tavo.

Eles embarcavam nos navios da Linha C, italiana, principalmente o Ana C, que vinha do país da bota, passando por Barcelona, Lisboa e quetais.

Nós, eu, meus irmãos, minha mãe e meu pai, de quem ela era irmã, íamos sempre a bordo para nos despedirmos. Era possível acompanhá-los até as cabines. Quando o navio desatracava, dávamos tchauzinhos do cais, e saíamos correndo para ir de carro até a Ponta da Praia, a tempo de ver o transatlântico passar.

Na volta deles, cumpríamos o mesmo ritual. Era muito elegante e para um menino, uma grande aventura.

Em Santos, embarcavam e desembarcavam os viajantes que vinham ou saiam de São Paulo. Lembro que o Jânio Quadros sempre embarcava e desembarcava naquelas suas viagens para a Inglaterra, uma delas depois que renunciou e chegou ao porto pilotando um fusquinha e perseguido por toda a imprensa nacional.

Lembro de um grande desastre da época, o choque entre o Andréa Dória, de passageiros, e um navio sueco quebra-gelo. Eividentemente, o Andréa Dória levou a pior e afundou. A revista O Cruzeiro deu amplas reportagens fotográficas sobre a tragédia. Um jornalista famoso viajava em um camarote na quilha do Andréa Dória. Morreu e perdeu a que seria uma das grandes reportagens de sua vida.

Meu pai, Juan Manuel Serrano, era radio-amador e tinha amigos entre os oficiais de rádio, que também eram rádio-amadores, dos navios da Flota Mercante del Estado, da Argentina. Um deles era Rubem Compiani, oficial de rádio do Rio Jachal, um navio misto, de carga e passageiros, que fazia a rota Buenos Aires-Nova York.

Por conta de uma das intermináveis greves dos estivadores do Porto, frequentes naqueles tempos, Rubem comemorou um Natal lá em casa. Conheci o Rio Jachal de alto a baixo, da casa de máquinas à cabine de comando. Assim, também, o Rio Lujan, outro navio da frota. Até hoje tenho um copo de couro, com o dístico Flota Mercante del Estado (foto abaixo), que era utilizado para lançar dados na sala de jogos do navio. Recentemente, soube que Lucio Costa, o arquiteto que concebeu Brasília, desenhou o projeto do plano piloto da então futura capital, à bordo do Rio Jachal, em viagem de Nova York ao Rio de Janeiro.

Saudades, muitas saudades.

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