Imaginem a emoção de ingleses, americanos, franceses, europeus, do mundo “livre” quando se declarou o fim a II Guerra Mundial.
Imaginem a emoção dos sul-africanos quando Nelson Mandela tornou-se presidente da África do Sul, depois do infindável apartheid
Somem as duas e ouso dizer que foi quase assim a emoção que dominou a posse de Barack Hussein Obama, ontem, nos EUA e no mundo
Quem tem coração mole chorou – como eu.
Em seu editorial, O Estado de S. Paulo de hoje diz que Obama explicou na semana passada ao Washington Post porque, a seu ver, os EUA não serão os mesmos a partir de sua eleição. Disse Obama: “Uma geração inteira vai crescer achando normal que o posto mais elevado do planeta seja ocupado por um afro-americano. É uma coisa radical. Muda como as crianças negras olham para si mesmas. Muda também como as crianças brancas olham as crianças negras. Eu não subestimaria a força disso”.
Na manchete de hoje, o New York Times diz algo assim, em letras garrafais: “Obama presta juramento e a nação em crise se identifica com o momento” (em inglês: Obama take oath and nation in crisis embraces the moment). O texto registra: “Mr. Obama, o filho de um negro do Kenya e de uma mulher branca do Kansas, herdou a Casa Branca, em parte construída por escravos, e uma nação em crise interna e externa. O momento capturou a imaginação de quase todo o mundo enquanto mais de um milhão de pessoas agitando bandeiras testemunhavam Mr. Obama proferir o juramento com sua mão na mesma Bíblia que Abraham Lincoln usou na sua posse há 148 anos....a visão de um negro galgando o posto mais alto da nação eletrizou as pessoas para além das fronteiras raciais, geracionais e partidárias. (leia em:
http://www.nytimes.com/2009/01/21/us/politics/21inaug.html?_r=1&ref=todayspaper)
O escritor português José Saramago escreveu em seu blog O Caderno de Saramago:
“Donde saiu este homem? Não peço que me digam onde nasceu, quem foram os seus pais, que estudos fez, que projecto de vida desenhou para si e para a sua família. Tudo isso mais ou menos o sabemos, tenho aí a sua autobiografia, livro sério e sincero, além de inteligentemente escrito. Quando pergunto donde saiu Barack Obama estou a manifestar a minha perplexidade por este tempo que vivemos, cínico, desesperançado, sombrio, terrível em mil dos seus aspectos, ter gerado uma pessoa (é um homem, podia ser uma mulher) que levanta a voz para falar de valores, de responsabilidade pessoal e colectiva, de respeito pelo trabalho, também pela memória daqueles que nos antecederam na vida. Estes conceitos que alguma vez foram o cimento da melhor convivência humana sofreram por muito tempo o desprezo dos poderosos, esses mesmos que, a partir de hoje (tenham-no por certo), vão vestir à pressa o novo figurino e clamar em todos os tons: “Eu também, eu também.” Barack Obama, no seu discurso, deu-nos razões (as razões) para que não nos deixemos enganar. O mundo pode ser melhor do que isto a que parecemos ter sido condenados. No fundo, o que Obama nos veio dizer é que outro mundo é possível. Muitos de nós já o vinhamos dizendo há muito. Talvez a ocasião seja boa para que tentemos pôr-nos de acordo sobre o modo e a maneira. Para começar.” (leia em http://caderno.josesaramago.org/2009/01/20/donde/).
Desafios não faltam à Obama, at home and abroad como diz o New York Times.
Na Economia, José Paulo Kupfer, em seu blog no IG, explicita os desafios no texto O desafio de Obama é equilibrar economia e cidadania. Lá pelas tantas, ele diz:
“Quase quatro décadas de hegemonia do capitalismo neoliberal produziram distorções tão profundas na economia americana, com reflexos tão amplos no resto do mundo, que não bastará injetar dinheiro público nas empresas em dificuldades, salvando o bolso dos investidores, e engolir, também com dinheiro público, parte da dívida impagável dos consumidores.
Superar esse desafio exigirá retomar, em novas bases, mais sincronizadas com o atual mundo da comunicação instantânea e do mercado globalizado, os objetivos fundamentais da política econômica: prover condições para que a produção eficiente de bens e serviços e de modo a que seus frutos promovam o bem-estar e a qualidade de vida do maior número possível de pessoas, sem o que jamais será sustentável” (leia em http://colunistas.ig.com.br/jpkupfer/).
Assistindo àquele cerimônia de posse cheia de pompa e circunstância, transmitida em tempo real para todo o mundo, foi inevitável lembrar a da posse de George Washington, o primeiro presidente americano, na Filadélfia, recriada na série John Adams, da HBO, sobre a vida deste que foi o segundo mandatário norte-americano. O contraste com a simplicidade e a frugalidade daquela Filadélfia pós-guerra da Independência foi brutal. Mas os princípios de liberdade e democracia que marcaram aquela primeira posse foram todos reafirmados por Obama – sendo que a escravatura só foi extirpada quase um século depois.
Os americanos têm orgulho em reafirmar a sua história, em reafirmar os princípios e direitos estabelecidos pelos Founding Fathers, em lembrar as lutas para ampliá-los e estabelecer novos, que lhes custou muito esforço e sangue, especialmente na Guerra Civil que acabou com a escravatura. Como disse Obama, ainda durante a campanha, a força dos EUA vêm da liberdade e da democracia – que ele jurou celebrar em toda sua plenitude, mandando para a lata de lixo da história os desvios e desmandos da era Bush.
Olá Serrano, seu blog está ótimo, parabéns. Nao deixe de me avisar das novidades.
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José Santos