terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

EMPRESAS JORNALÍSTICAS E MERCADO FINANCEIRO SÃO COMPATÍVEIS?

Multiplicam-se na imprensa as matérias sobre as dificuldades financeiras do New York Times, o ícone do jornalismo sério e liberal no mundo. A esse respeito vale a pena ler a matéria de Matias Molina, no suplemento EU & Fim de Semana, do Valor Econômico do último fim de semana.

A eventual falência do seu modelo de jornalismo, provocado pela concorrência da internet, agravada pela atual crise econômica e decisões erradas tomadas por seus controladores, é preocupante - coloca em risco o modo de produção de jornalismo consagrado há mais de um século, que se pauta pela abordagem de assuntos de relevância, o máximo de objetividade possível, e pelo alto grau de influência nos EUA e no mundo. É um modelo copiado por todos os jornais sérios no mundo que se inspiram na escola norte-americana de imprensa (há a escola européia, também).

O NYT pôs o pé na internet com muita competência. É tão rico em informações quanto seu irmão de papel, visitadíssimo, mas gratuito. Seus criadores imaginaram que um alto número de visitações atrairia um volume compensador de publicidade, viabilizando a operação. Mas esta não tem se mostrado suficiente. E a pressão das dívidas cresce.

A imprensa norte-americana sofre mais do que qualquer outra a pressão da internet, de um lado e dos acionistas, de outro. Os seus maiores veículos de comunicação impressos (e os demais também) têm papéis em bolsa e não tem conseguido oferecer dividendos compensadores a seus detentores. Vivem entre a cruz e a caldeirinha e a maioria parte para cortar custos, o que significa cortar a qualidade de seu noticiário, ou rebaixar o nível editorial em busca de maior circulação. Cadernos de cultura tem sido fechados na busca de economia. São soluções em que o jornalismo sério, independente e de qualidade perde.

Não é o caminho que NYT quer trilhar. Seus executivos estudam passar a cobrar o conteúdo na internet. Uma das ferrametas seria o pagamento de centavos de dólar pela leitura de cada texto. Outro caminho, citado na matéria de Matias Molina, mas que ainda não é visto com simpatia dentro da empresa, é transformar a empresa em Fundação, seguindo exemplo de importantes jornais alemães, como o Frankfurter Allgemaine, entre outros.

O caminho da Fundação talvez seja o melhor para o NYT e para a mídia de qualidade ao redor do mundo. Algo me diz que imprensa de qualidade e mercado financeiro não são economicamente compatíveis. A velocidade de produção de resultados exigida pelo mercado não é a mesma em que as empresas jornalísticas podem se mover. É menor. O que não quer dizer que as empresas jornalísticas não possam ser lucrativas.

Funcionar como Fundações talvez permita às editoras de jornalismo de qualidade operar finaceiramente saudáveis, cumprindo o seu papel fundamental de informar a sociedade e ser um dos pilares da democracia. É um caminho a discutir.

Um comentário:

  1. O problema de faturamento em internet, mesmo que o site seja de qualidade, não é só do NYT, mas de toda a imprensa especializada. No Brasil, por exemplo, apesar da modernidade da internet, das notícias online, de mais de 40 milhões de usuários, a internet ainda é vista com desconfiança pelas agências e pelos anunciantes em geral. Entretanto, só através de um site, blog, etc., que uma empresa ou uma pessoa consegue atingir o mundo inteiro. Qual circulação de jornal ou revista impressa teria essa condição?
    O que está faltando para tornar mais viáveis financeiramente os sites noticiosos eu não sei, pois tenho um na área de economia (www.revistaportuaria.com.br) que inclusive faz transmissão ao vivo via internet de eventos, feiras e notícias do dia-a-dia, mas que sofre também em faturamento, apesar de ter uma base de internautas (empresas e empresários) de mais de 100 mil, para os quais são disparadas newsletters diárias.
    Mas depois desta notícia do NYT já estou um pouco mais aliviado de que não sou o único a ter dificuldades em financiar meu site. O problema que os investimentos são altos. Para funcionar como canal de Tv Online, com videos diários, transmissão ao vivo, a estrutura em equipamentos e pessoal é quase igual a de uma televisão de pequeno porte.
    Mas estou apostando nesse nicho de mercado há mais de um ano e tenho esperança de que uma hora o mercado reconhecerá a importância dos sites noticiosos na internet.

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