terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

SARNEY, O PRÍNCIPE DE SALINAS

Na semana passada, escrevi aqui sobre a saga de Ulysses Guimarães como condutor da nave peemedebista e da sociedade brasileira na luta pelas eleições diretas. Deu em eleição indireta, com a candidatura de Tancredo Neves à presidência e José Sarney, desembarcando no PMDB vindo do PDS, onde, pressentindo a direção dos ventos, dissentia da candidatura Maluf. Com a morte do Tancredo antes da posse, Sarney assumiu – e até hoje pagamos o preço disso.

Dizem os estudiosos que se a transição de uma ditadura para uma democracia se dá por ruptura, o desenvolvimento do novo regime será mais livre, leve e solto, digamos assim. Se se dá por um arranjo conciliador, será arrastado, carregando em seu bojo, vícios e distorções do regime anterior, que levarão muito tempo para serem superados. Este foi o caso do Brasil.

Alijado da Presidência da República por Sarney, Ulysses ocupou três outras, a do PMDB, que já detinha, a da Câmara dos Deputados e a da Assembléia Constituinte. Graças a elas, influiu decisivamente nos rumos do governo, levando as bandeiras libertárias e desenvolvimentistas do PMDB adiante. Mas, mais do que essas bandeiras, que eram da elite do PMDB, o que unia o partido era ser de oposição ao regime autoritário. Removido esse alvo, o PMDB começou a perder substância política e ideológica, o que se acelerou com a morte de Ulysses e a fundação do PSDB.

O mais decisivo nessa mutação, foi que o ex-pedessista Sarney passou a ocupar cada vez mais espaço na liderança nacional do partido. E cada sessão estadual, diante da inexistência de um norte nacional, tratou de regionalizar seus interesses e incrustar-se no poder, a qualquer preço.

Foi esse o PMDB que ganhou as presidências do Senado e da Câmara, ontem, por ser majoritário nas duas casas.

Ele exerceu seu peso nos governos Collor, FHC e Lula. Será uma âncora conservadora, não ideológica e fisiologista nos meses que restam do governo Lula. Suprema ironia.

Não incomodará o presidente enquanto ele mantiver a atual política econômica que herdou de FHC e se limitar a distribuir Bolsas Famílias, que, ao mesmo tempo que beneficiam as populações carentes, o que é bom, as mantém sob controle.

E escolherá qual candidato apoiar em 2010 para a presidência, pondo a sua máquina eleitoral a seu favor. Provavelmente, até se dividirá apoiando mais de um candidato, ganhando em qualquer circunstância.

Diante dessa história, é inevitável lembrar de Lampedusa: “Tudo deve mudar para que tudo fique como está”, dizia o Princípe de Salinas, protagonista de seu livro Il Gattopardo – aliás, magnificamente intepretado por Burt Lancaster, no filme de Luchino Visconti, ao lado da jovem e belíssima Cláudia Cardinale e do charmoso Alain Delon ( veja aqui sobre o filme: http://lasaraghina.blogspot.com/2005/11/il-gattopardo.html).

(Este texto também está publicado no portal Jornal da Comunicação Corporativa www.megabrasil.com.br)

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