terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

VIDA VEGETATIVA, ARTIFICALMENTE MANTIDA, É VIDA HUMANA?

Postado na terça-feira na coluna Cenários, no site Jornal da Comuncação Corporativa (www.megabrasil.com.br)


“Sim, ela se foi, mas não quero declarar nada, só quero ficar só, porque fiz tudo sozinho”, foi o que disse, chorando, Beppino Englaro, pai da italiana Eluana Englaro, 38 anos, sobre a morte da filha, ontem, em consequência do desligamento dos aparelhos que a mantinham artificialmente em vida vegetativa desde os 21, quando sofreu um acidente e entrou em coma irreversível. Esse era o relato estampado, ontem, no site do jornal La Reppublica, de Roma.

“Demos voz a ela, pois ela disse certa vez que não queria viver com a ajuda de aparelhos depois de ver alguns amigos nessa condição”, tinha declarado, recentemente, Englaro. Desde 1997, ela batalhava na Justiça italiana para desligar os aparelhos que sustentavam a vida de sua filha. Conseguiu uma sentença favorável da Suprema Corte Italiana recentemente e transferiu a filha para uma clínica em Udine que se prontificou a recebê-la e progressivamente desligar a aparelhagem que a assistia. Desde a sentença favorável, instalou-se uma polêmica enorme na Itália.

A Igreja, políticos conservadores e até o primeiro-ministro Silvio Berlusconi eram contra deixar Eluana morrer. Houve manifestações de católicos conservadores diante da clínica em Udine. O primeiro-ministro Berlusconi encaminhou um projeto de lei ao Senado para proibir o desligamento dos aparelhos. O presidente Giorgio Napolitano avisou que não a assinaria, se aprovada. Depois da morte, abre-se, agora, a temporada de disputa legal em torno do dramático desenlace.

Eu estou plenamente solidário com Beppino Englaro, o pai de Eluana. Independentemente do que ela tenha manifestado no passado, sobre não querer ser mantida artificialmente em vida, é natural que os pais queiram o melhor para os seus filhos. Deve ter sido profundamente doloroso acompanhar a vida vegetativa artificial de Eluana e mais doloroso ainda perder a esperança de sua recuperação e concluir que a morte era o melhor para ela.

É doloridíssimo para pais verem um filho morrer, pois contraria a ordem natural das coisas. Muito menos natural, vê-lo como um morto vivo. Vida vegetativa, artificalmente mantida, é vida humana? Não faz sentido que crenças religiosas e, muito menos, demagogia política queiram impor seus princípios em uma questão familiar, pessoal, íntima como essa. Com o apoio da Justiça italiana, o foro adequado para a sua discussão, Beppino Englaro realizou a vontade da filha, como ele mesmo diz.

Mas certamente carregará o amargor desse doloroso episódio pelo resto de sua vida.

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