Trecho do artigo “A ótima avaliação de Lula” de Alberto Carlos Almeida, sociólogo e professor universitário, autor de “A Cabeça do Brasileiro”, publicado na última edição do suplemento EU& do jornal Valor Econômico:
“...A nossa cultura personaliza tudo. O Plano Real foi de Fernando Henrique. Collor foi quem mudou a agenda do Brasil. Lula cuidou dos pobres. E por aí vai. Na personalização não cabem raciocínios complexos. Em sua versão mais aguda, ela é típica de uma sociedade pouco desenvolvida e pouco escolarizada.
Não adiante explicar que o sucesso econômico do governo Lula se deveu a uma onda mundial de liquidez sem precedentes. Não adiante mostrar que ele deu continuidade a uma política econômica adotada o governo anterior. Não adiante mostrar que no período Fernando Henrique foram feitas muitas reformas que prepararam o terreno do crescimento. Nada disso importa. Vale apenas o fato de que o crescimento ocoreu no mesmo período em que Lula ocupava o Palácio do Planalto. Então, conclui-se, foi Lula que fez.
Esse traço mais acentuado no subdesenvolvimento foi muito bem aproveitado pelo governo. A propaganda governamental sempre enfatizou o desempenho do presidente em suas funções. De fato, para o marketing do governo, foi Lula quem fez. A grande questão, agora, é saber se o feitiço vai virar contra o feiticeiro. Lula vai escapar do desgaste da crise? Ele, que tão bem buscou personalizar o sucesso do crescimento econômico, poderá, neste momento, atribuir o fracasso aos Estados Unidos?
(...)”Perder o emprego é uma experiência profundamente traumática. Em tempos de crise, mais ainda. Simplesmente porque as perspectivas de realocação no mercado de trabalho são sombrias. Será difícil o presidente persuadir os desempregados de que os Estados Unidos foram os responsáveis por sua demissão. Mais ainda, será igualmente difícil mostrar para os desempregados que a volta ao trabalho depende de medidas de Barack Obama. Por isso, não será surpresa se a popularidade Lula começar a cair em breve.
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