Meu pai, Juan Manuel, era argentino, de Buenos Aires. Veio para o Brasil em 1935, aos 19 anos. E transformou-se no argentino mais brasileiro que jamais conheci. Não tinha nenhum sotaque portenho. Amava o nosso país.
Era radioamador, com prefixo PY2 CVS. Naturalmente, tinha um enorme relacionamento com radiamadores argentinos. Quando entrava no ar para falar com eles, assim anunciava seu prefixo: Pê Igrega Dos Canada Vitoria Santiago, Santos, Brasil, La Capital Mundial del Futbol. Também amava o Santos FC.
A nossa casa, em Santos, era muito frequentada por argentinos que iam lá falar pelo rádio com Buenos Aires (falo dos anos 60, quando a telefonia ainda era muito restrita abaixo do Equador). Amigos dele, radiomadores, oficiais de rádio de navios da Flota Mercante del Estado, da Argentina, paravam lá em casa, enquanto seus navios estavam no porto.
Como já disse, era a década de 60 e eu adorava comparar, com eles, a indústria automobilística brasileira com a argentina. Eu achava que nossos carros eram melhores, eles que os deles eram. A Argentina ainda carregava a grandeza econômica das primeiras décadas do século passado, quando amealhou muito dinheiro com a exportação de grãos e carne. O Brasil começava a se industrializar mais pesadamente. Disputávamos a liderença economica e política da América do Sul.
Isso é passado. Nos fomos em frente, eles pararam. Jamais superaram a dicotomia peronismo x conservadores que os paralisa até hoje. Com isso, sua indústria encolheu e a sua democracia é altamente instável.
Na década passada, o então presidente Raúl Afonsin teve que passar o cargo para seu sucessor eleito, Carlos Menem, meses antes da data oficial da posse, pois não conseguia mais controlar a inflação.
Nesta década, a Argentina deu calote em sua dívida externa, o que fizemos nos anos 80, e até agora não conseguiu voltar plenamente ao mercado financeiro internacional.
O que dizer da mulher do ex-presidente Kirchner ter sido eleita para suceder o próprio Kirchner? Parece sucessão dinástica.
Os recentes embates entre os produtores de carne e o governo de Cristina Kirchner é a repetição de conflitos de 60 anos atrás entre "la dinastia lechera" e o governo de Juan Domingo Perón.
É uma velha história que nunca acaba, nunca é superada.
Agora, a presidente Cristina Kirchner manda ao Congresso um projeto de lei para antecipar as eleições legislativas, sob o argumento de que a gravidade da crise não permite esperar as indefinições provocadas por uma campanha eleitoral excessivamente longa.
A oposição diz que a antecipação visa evitar o desgaste eleitoral que a crise provocará entre os candidatos governistas.
Assim, não há democracia que se institucionalize.
Chore por ti, Argentina.
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