quarta-feira, 4 de março de 2009

O SOCIÓLOGO FHC FAZ FALTA

O sociólogo Fernando Henrique Cardoso faz falta.

Desde que FHC conquistou cargos políticos, a figura do sociólogo FHC foi esmaecendo.Refiro-me à exposição pública do pensamento integral e profundo do sociólogo.

Conheci FHC em 1973, quando eu era correspondente do semanário Opinião, em São Paulo, e ele colaborava no jornal. Creio, não tenho absoluta certeza, que foi nessa época que suas análises políticas começaram a ganhar espaço na imprensa.

Um dos temas sobre o qual o entrevistei na época foi se o Brasil deveria substituir o voto majoritário pelo distrital. A questão não foi resolvida até hoje.

Na década de 70, FHC era uma das estrelas das reuniões anuais da SBPC, nas quais se discutia muita política, pois os demais espaços estavam bloqueados pela ditadura.

Lembro-me, particularmente, de sua fala na SBPC de 1978, realizada na PUC, em São Paulo, em que fez sérias críticas à visão da oposição sobre o desenvolvimento do Brasil. Citou, por exemplo, que não se dava importância às ferramentas que a ditadura criara para alimentar o clientelismo eleitoral a favor do partido oficial, a Arena. Referiu-se, em especial, ao FUNRURAL, cujas delegacias eram disputadas a tapa por políticos que as viam como mais uma instância de controle de seu eleitorado.

No começo da década, Ulysses Guimarães já o havia convocado e ao CEBRAP para elaborar o programa do MDB, dando-lhe um conteúdo social e econômico desenvolvimentistas.

Nessa época, ganhou espaço na Folha de S. Paulo, que abria suas páginas ao debate político, sob as batutas de Cláudio Abramo e Otávio Frias de Oliveira. Participava, também, dos debates promovidos pela ISTOÉ, na sua primeira fase editorial.

Sua participação político-partidária, se inicia com a eleição para a suplência de senador em 1978, seguida do exercício da presidência do PMDB paulista. Com a eleição de Franco Montoro para o governo de São Paulo, FHC assume seu primeiro mandato de senador.

Na época, FHC ainda exercia a presidência da Associação Mundial dos Sociólogos. Quando viajava à Europa por conta do cargo era alvo de ironias dos “profissionais” da política, como Orestes Quércia, que sempre insistia que ele não tinha pendor para a atividade.

O combate à ditadura e a união das oposições ainda permitia que o sociólogo manifestasse suas opiniões críticas sobre a política e os partidos, sem prejudicar, digamos assim, as posições do político FHC.

Mas, a medida que o espectro político se ampliou, propostas diferentes de atuação político/partidárias surgiram e se firmaram, e as disputas se acirraram, o espaço de liberdade do sociólogo foi se estreitando. Passaram a prevalecer em público as opiniões do político compromissado com a proposta de um partido, o PSDB.

Quando se tornou Presidente da República, mais ainda. E as restrições ainda hoje existem, pois FHC é Presidente de Honra do PSDB e um dos pólos das atuais querelas político/partidárias.

No último domingo, no artigo “O gesto e a palavra”, publicado por O Estado de S. Paulo e O Globo, o sociólogo FHC deu um pouco do ar de sua graça, escrevendo sobre um tema difícil com distanciamento analítico.

No texto, analisou as dificuldades da oposição, portanto de seu próprio partido, fazer, hoje, no Brasil, um discurso que ganhe “a alma das pessoas”, em outras palavras, o “voto do eleitor”, frente a força comunicativa de um “ícone” como o presidente Lula.

Suas conclusões finais são as seguintes:

- As oposições, além de articularem um discurso programático, condição necessária para quem se respeita e acredita nas instituições, deverão expressá-la de forma a sensibilizar o eleitorado (....) É preciso buscar os temas da vida que interessam ao povo.

- A comunicação emotiva requer “fulanizar” a disputa para atribuir ao candidato virtudes que despertem o entusiasmo e a crença. Sem eles, a “caixa de entrada” das mensagens da sociedade continuará a dar sinal de estar cheia e os ouvidos continuarão moucos aos conteúdos, por melhores que sejam...

- Programa político só mobiliza a sociedade quando é vivido por intermédio de personagens que tratam como próprias as questões sentidas pelo povo.

Quando se elegeu presidente, FHC tinha, como ele mesmo reconhece, um ícone nas mãos: o Plano Real.

Lula é um ícone.
Quem conseguirá reunir as condições prescritas por FHC para a disputa presidencial de 2010?

Leia o artigo "O gesto e a palavra" em http://www.ifhc.org.br/Upload/conteudo/2009-03.pdf

Um comentário:

  1. Para mim FHC se escancara em uma entrevista dada à BBC. O entrevistador inglês, livre das amarras e convenções políticas que seus colegas brasileiros de profissão têm, o aperta e faz quase gaguejar. Cai a máscara do intelectual, que na minha oinião está mais para besta.

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