domingo, 29 de março de 2009

RATZINGER, ISTO É, BENTO XVI, NA BERLINDA


Em 1632, Galileu Galilei, foi obrigado a renunciar à sua teoria de que a Terra se move à volta do Sol. Suas obras foram censuradas e proibidas pela Igreja Católica de Roma.

A Santa Inquisição lhe poupou a vida, mas Galileu Galilei foi obrigado a viver em prisão domiciliár o resto da vida.

Em 1983, 341 anos após a sua morte e 14 após o homem chegar à Lua, a Igreja, absolveu-o, pois não dava mais para discordar do óbvio. Mas, convenhamos, foram necessários 3 séculos para a Igreja se mover na direção da ciência. Haja imobilismo.

Essas reflexões me vem à cabeça diante dos últimos movimentos do Papa Bento XVI, o cardeal Ratzinger, e suas atitudes retrógradas.

As últimas foram na África, com a condenação do uso da camisinha, em um continente infestado pela AIDS e a recomendação para a Igreja local não permitir o sincretismo com as crenças tribais locais nas cerimônias católicas.

Anteriormente, já tinha cometido o erro de anular a excomunhão do bispo Richard Willianson, por negar a ocorrência do Holocausto, decisão da qual teve que recuar por pressão do episcopado.

NoBrasil, houve o episódio da excomunhão, pelo arcebispo de Olinda e Recife, D. José Cardoso Sobrinho, da mãe e dos os médicos e outros envolvidos no aborto legal feito por uma menina de 9 anos, engravidada pelo próprio padrasto - episódios que a CNBB e setores do Vaticano tentaram, posteriormente, minimizar diante de sua estrondosa reprcussão negativa.

D. José é um produto da gestão do Papa João Paulo II, iniciador da atual postura retrógrada da Igreja, voltada acima de tudo, para eliminar as diretirzes liberalizantes implantas pelo Concílio VaticanoII, no papado de João XXIII, há cerca de 50 anos.

O carisma e o sucesso midiático de João Paulo II, multiplicado por suas constatantes viagens evangélicas pelo mundo, de certa forma deixaram em segundo plano essa reviravolta doutrinária.

Bento XVI é seu continuador e, por não ter o charme e o carisma de seu antecessor, sua política retrógrada e conservadora salta mais os olhos.

Dizem os vaticanólogos que o seu isolamento no Vaticano e o fato de estar cercado por uma Cúria pouco competente, o induzem a cometer erros atrás de erros, que só prejudicam a imagem da Igreja Católica e de suas possibilidades de expansão diante das igrejas concorrentes.

Paralelamente, registram uma forte disputa dentro da Igreja entre os que querem aprofundar a atual tendência conservadora e os que desejam arejar a hierarquia e os procedimentos da instituição.

A revista Carta Capital desta semana trata do assunto no artigo "Um papa no bunker", de Antonio Luiz M. C. Costa (assinantes podem acessá-lo aqui). Na última edição dominical de El País, de Madrid, também pode-se ler o artigo "El error Ratzinger se agiganta", de Miguel Mora, que pode ser acessado aqui.

O tempo que a Igreja levou para reconhecer seu erro em relação a Galileu Galilei não anima quanto ao que ela levará para admitir os atuais avanços da sociedade e da ciência humanas.


A menos que cardeais progressistas como Angelo Giuseppe Roncalli, o Papa João XXIII, sejam conduzidos ao trono de São Pedro.

Um comentário:

  1. O Papa vem fazendo um trabalho muito bom, por isso é tão criticado na imprensa brasileira.
    Com relação a Galileu há, obviamente, muito panfleto e pouco fato realmente histórico sobre a sua condenação.
    O primeiro fato é que Galileu era um protegido do Papa e mesmo após a sua condenação gozou de privilégios que nennum condenado do Santo Ofício jamais recebera.
    Aliás, durante o próprio inquérito o Papa chamou a responsabilidade do ofício para si e não deixou que as denúncias contra Galileu fossem devidamente examinadas. Porque realmente essas denúnicias eram graves e certamente levariam Galileu à fogueira.
    Galileu Galilei estava errado e mesmo assim, mesmo depois de sua condenação, continuou trabalhando para a Igreja (e seus filhos sustentados pela mesma).
    NO que acreditava de fato Galileu?
    Galileu propôs que o Sol era o "centro do Universo" e sabemos hoje que o Sol não é o centro do "Universo".
    Mas não é esse o detalhe que mais chama a atenção na condenação de Galileu. Para quem realmente teve a curiosidade de ler o seu processo, salta aos olhos o fato de Galileu inspirar-se no culto do "deus Sol" defendido pelo Copernicanismo. Isto é: para Galileu, colocar o "Sol no centro do Universo" era uma questão que transcendia a ciência.
    Para ele, havia um “espírito que aquece e fecunda todas as substâncias corpóreas, o qual partindo do corpo solar propaga-se com enorme velocidade pelo mundo inteiro“ (Apud. Pietro Redondi, Galileu Herético, Editora Schwarcz Ltda, São Paulo, p.19.). Falando da luz, dizia ele: “substância espiritualíssima, sutilíssima e velocíssima que difundindo-se pelo universo penetra tudo sem resistência, aquece, vivifica e torna fecunda todas as criaturas viventes.” (Carta de Galileu a monsenhor Pietro Dini, 23 mar.1615, Opere,V, p.289).

    Baseava sua teoria da luz na metafísica exposta no livro de “De Revolutionibus” de Copérnico, e, “sob a escolta de Dionísio Areopagita, mostrava a sugestiva concordância entre esses poéticos versos do Salmo XVIII e as idéias sobre a emanação da luz celeste e terrestre que a pedra de Bolonha, a cintilação das estrelas e as manchas solares haviam lhe sugerido (...)”. (Pietro Redondi, Galileu Herético, Editora Schwarcz Ltda, São Paulo, 1991, p.18). Evidentemente tudo bem “científico”, e absolutamente não “religioso”... Já podemos imaginar agora uma outra figura de Galileu...uma figura um pouco menos severa, um tanto mais carismática... talvez com olhos esbugalhados, tagarelando palavras incompreensíves e rabiscando-as no pergaminho em uma tentativa frustrada de expressar a iluminação inefável recebida do alto. Deixemos esse prazer ao leitor...
    Também escreveu sobre uma série de outras bobagens de cunho totalmente místico como sobre a "não existência" dos cometas (que para ele seria um mero fenômeno óptico). Aliás, até nesse ponto a Igreja estava certa pois a mesma sempre afirmou a existência dos cometas, coisa que Galileu recusava. Sobre isso quase ninguém escreve.
    Com relação ao Papa, os católicos realmente fiéis ficam felizes de saber que tantos não-católicos e odiadores eternos da Igreja (como a imprensa brasileira) sintam-se assim tão mal sabendo em enfim há um Papa que defende a tradição.
    Certamente também há entre os católicos aqueles que abominam a palavra "tradição" (aqueles que preferem a Igreja à moda maçônica ou protestane advinda do Concílio Vaticano II), mas enfim, não foi a toa que um dia existiu até mesmo entre os apóstolos um traidor.
    Por que se a Igreja não serve para manter viva a chama da tradição, para que enfim serve a Igreja?

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