
A frase que titula este texto me veio à cabeça quando li que Rússia e China pediram calma ao Ocidente e ao Japão quando foi noticiado que a Coreia do Norte havia disparado o foguete que levaria um “satélite de comunicações”, que ninguém conseguiu detectar até agora nas órbitas terrestres.
A notícia quebrou o clima de satisfação, em nível mundial, reinante depois da reunião do G-20, em Londres, na qual foram encaminhados recursos da ordem de US$ 1,1 trilhão e providências para colocar a economia mundial no caminho da estabilidade, do crescimento e da criação de empregos.
Como se fizesse questão de lançar uma nota dissonante, a Coreia do Norte fez o lançamento, há muito anunciado, no domingo seguinte ao fim da reunião, recriando um clima de enfrentamento entre potencias do Ocidente e do Oriente, com o Japão no meio. As televisões transmitiram aquelas cenas ridículas, de PR fake, com norte-coreanos celebrando o “feito” do país, do líder do King Jong-il prestigiando o lançamento, essas coisas de país comunista e sub-desenvolvido.
Nesta segunda-feira (6/4), O Estado de S.Paulo publicou um artigo de Hans Blix,
presidente da Comissão sobre Armas de Destruição em Massa (WMDC) do governo sueco e ex-chefe da equipe da ONU de inspeção de armas no Iraque, bem na linha do “muita calma nessa hora”, com o título “Hora de ser paciente com Pyongyang ( capital da Coréia do Norte).
Eis o artigo, publicado originalmente no jornal inglês The Guardian:
“O que ocorre quando pessoas desesperadas mantêm grupos de reféns em aviões ou bancos? Algumas vezes, a polícia ou o Exército adotam uma ação rápida ou tentam algum ardil para eliminar o perigo. Em outras, não tomam nenhuma medida, temendo que os reféns sejam mortos. Frequentemente, mas nem sempre, o cansaço e a exaustão respondem pelo fim do drama.Estamos numa situação similar em relação à Coreia do Norte?
As grandes potências reconhecem que a ameaça ou o uso da força militar não é a opção. Uma ação contra alvos-chave na Coreia do Norte dificilmente será rápida para impedir que o regime cause danos terríveis para a Coreia do Sul e talvez para o Japão. E nem seria necessário usar armas nucleares, pois Seul está ao alcance da artilharia norte-coreana. Um colapso do Estado norte-coreano também seria um pesadelo.Então, por que não conversar?
É o que vem sendo feito com certo sucesso há muitos anos e sem dúvida vai continuar. Os EUA ameaçaram e aumentaram a pressão, e a situação ficou mais perigosa. No entanto, os americanos parecem ter concluído que, para convencer a Coreia do Norte a abandonar seu programa nuclear, é preciso oferecer ao país algo mais útil do que armas nucleares e programas de mísseis. Por outro lado, o regime sabe que, para abandonar esses programas, pode exigir muito.O regime norte-coreano tem tido boas razões para temer as iniciativas para eliminá-lo por meio de ações externas - ataques militares ou atividades subversivas. Portanto, parece prudente oferecer, numa negociação, garantias contra aquele tipo de ação.
Para Pyongyang, a questão pode ser o que lhe dará mais segurança - armas nucleares do seu próprio arsenal ou um documento assinado. O regime norte-coreano foi isolado. Assim, uma proposta de relações diplomáticas com EUA e Japão e relações normais com o mundo em geral pode ter um valor considerável em troca da suspensão do programa nuclear. Muitas outras ofertas podem e já fazem parte desse processo de convencimento, como de alimentos e assistência econômica nas suas mais variadas formas, assistência energética - como petróleo. Pode-se estabelecer alguns limites ao poder de persuasão do governo chinês, mas ele é importante. Uma Coreia do Norte com capacidade nuclear lançando mísseis contra o Japão pode levar Tóquio numa direção que só vai aprofundar as tensões com a China.
Assim, embora o Conselho de Segurança e todos os demais condenem esses últimos testes realizados pela Coreia do Norte, uma retomada das conversações é o desejável em vez de novas sanções. É preciso que nas conversações entre as seis potências sejam encontradas fórmulas que tragam benefícios a todas as partes. E elas não devem estabelecer uma inspeção para se verificar se algum material físsil não declarado esteja oculto, mas tem de haver garantias contra uma possível produção desse tipo de material.E se o regime norte-coreano continuar entendendo que somente a demonstração do seu poderio militar é que pode garantir sua existência? Neste caso, temos de ser pacientes, procurar evitar a proliferação e esperar mais um dia”.
Hans Blix, vale lembrar, foi uma pedra no sapatos de George W. Bush e Tony Blair, quando os governos dos EUA e da Inglaterra tentaram provar, a qualquer preço, logo após os atentados de 11 de setembro, que o Iraque possuia armas de destruição em massa, prontas para serem disparadas contra o Ocidente. Como não as descobria, Bush e Blair passaram por cima dele, que foi afastado do cargo, e declararam guerra ao Iraque.
A história mostrou que Blix estava certo. Vale a pena ouvi-lo em relação às bravatas da Coréia do Norte. O que deve ocorrer nestes tempos de Barack Obama.
Guerra, já chega a do Afeganistão, já que a do Iraque tende a acabar.
Hans Blix, vale lembrar, foi uma pedra no sapatos de George W. Bush e Tony Blair, quando os governos dos EUA e da Inglaterra tentaram provar, a qualquer preço, logo após os atentados de 11 de setembro, que o Iraque possuia armas de destruição em massa, prontas para serem disparadas contra o Ocidente. Como não as descobria, Bush e Blair passaram por cima dele, que foi afastado do cargo, e declararam guerra ao Iraque.
A história mostrou que Blix estava certo. Vale a pena ouvi-lo em relação às bravatas da Coréia do Norte. O que deve ocorrer nestes tempos de Barack Obama.
Guerra, já chega a do Afeganistão, já que a do Iraque tende a acabar.
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