quarta-feira, 20 de maio de 2009

TAREFA DE HÉRCULES

No show de horrores políticos/parlamentares relatados pela edição da revista Veja desta semana, há um trecho muito interessante na reportagem “O Senador e seus Fantasmas”, que relata que o senador Efraim Morais, do DEM da Paraíba, tem 52 funcionários-fantasmas contratados, sendo que 37 estão lotados no setor administrativo da Casa, mais exatamente na Primeira-Secretaria, que ele já ocupou.

Há na reportagem uma entrevista com Morais que, ao final, reproduz uma explicação instrutiva dada aos repórteres Otávio Cabral e Alexandre Oltramari pela chefe de gabinete do Senador, Mariângela Cascão. Disse ela: “O senador não pode dizer isso a vocês. Esse pessoal fazia política para ele na Paraíba. São cabos eleitorais dele. É que vocês são de cidade grande, não entendem como funciona política no interior. Se não for assim, não se elege”.

Singelo, não?

É com essa mentalidade “interiorana” que a grande maioria dos políticos do chamado baixo clero desembarca em Brasília para representar suas regiões no Congresso – e não só do baixo clero.. Mesmo que sejam das capitais dos Estados, portanto não do interior, estão acostumados a usufruir de esquemas de sustentação muito próximos dos antigos “currais eleitorais” e tentam transferir os mesmos métodos para as suas vilegiaturas em Brasília.

Quando digo que não só os do baixo clero, lembro que Fernando Collor tentou exercer a presidência como se ainda estivesse em Alagoas e foi defenestrado do Palácio do Planalto quando, entre outras coisas, bateu de frente com os interesses do mundo político, empresarial e midiático do Sudeste que, pelo menos no discurso público, defende práticas políticas mais transparentes e alinhadas com a opinião das elites dessa região. Entenda-se elites, aqui, como elites político-partidárias, econômicas e da sociedade civil.

O caso do deputado gaúcho Sérgio “estou me lixando para a opinião pública” Moraes enquadra-se perfeitamente nessa categoria. Tenho certeza que, acostumado às disputas no interior gaúcho, onde as peças do xadrez político são mais ou menos conhecidas e dominadas e não há uma mídia independente, não se deu conta da sofisticação do ambiente nacional em que agora está navegando. E meteu os pés pelas mãos e quanto mais tenta se safar mais se enrola.

Assim como ele, deve haver centenas de outros parlamentares com esse “déficit de ética representativa”, digamos assim, nas casas de leis de todo o país, das Câmaras de Vereadores até o Senado Federal. Cutucar e expor as mazelas na Câmara e no Congresso já é uma tarefa hercúlea. Fazer isso em todas as casas de leis mais ainda, até porque os órgãos de imprensa regionais não têm a mesma independência e agressividade dos nacionais. Mas é uma boa pauta para a moralização da política e para o fortalecimento da democracia brasileira.

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