Texto assinado por Samy Adghirny, na Folha de S.Paulo deste sábado, sobre a eleição no Irã, com o título "Ahmadinejad se orgulha de origem simples", traz a seguinte informação sobre o presidente reeleito:
"Para o presidente - e para a maioria dos iranianos - os persas formam uma civilização grandiosa cujo papel na humanidade é subestimado pelo Ocidente..."
Bernard Lewis, professor emérito de Estudos Orientais da Universidade de Princeton, nos EUA, desde 1974, considerado um dos maiores especialistas em Oriente Médio, disserta longamente sobre essa questão em seu livro "O que deu errado no Oriente Médio?".
Na conclusão do livro ele diz:
"Ao longo do século XX tornou-se sobejamente claro no Oriente Médio e, na verdade, por todas as terras do Islã, que as coisas tinham realmente dado extremamente errado. Comparado com o seu rival milenar, a cristandade, o mundo do Islã, tornara-se pobre, fraco e ignorante. Ao longo dos séculos XIX e XX, a supremacia e portanto a dominância do Ocidente tornou-se patente para todos, invadindo todos os aspectos da vida pública muçulmana e - mais dolorosamente - até de sua vida privada."
Lewis lembra que "durante a maior parte da Idade Média... foi ali (no mundo do Islã) que antigas ciências foram restauradas e desenvolvidas e novas ciências criadas; ali que novas indústrias nasceram e as manufaturas e o comércio se expandiram a níveis sem precedentes. Foi ali, também, que governos e sociedades alcançaram um grau de liberdade e de expressão que levava judeus perseguidos e até cristãos dissidentes a fugir da cristandade para o Islã em busca de refúgio. O mundo medieval islâmico oferecia apenas um grau limitado de liberdade em comparação com os ideais modernos e até a prática moderna nas democracias mais avançadas, mas oferecia imensamente mais liberdade do que qualquer de seus predecessores, seus contemporâneos e a maioria de seus sucessores"
Mais adiante diz:
"Em nossos dias, duas respostas a essa questão (o que deu errado?) recebem amplo apoio na região, cada uma envolvendo seu próprio diagnóstico do que está errado e a receita correspondente para sua cura. Uma, que atribui todo o mal ao abandono da herança divina do Islã, defende o retorno a um passo real e imaginário. Esse é o procedimento da Revolução Iraniana e dos chamados movimentos e regimes fundamentalistas em outros países muçulmanos. O outro procedimento é o da democracia secular, que tem sua melhor corporificação na República Turca fundada por Kemal Ataturk".
O reeleito Ahmadinejad se alinha com a tese da Revolução Iraniana e tira a sua força da identificação com a maioria pobre do país, para quem os ditames religiosos ainda pesam mais do que os desconfortos econômicos e sociais.
A nova diplomacia de Barack Obama, que apostava inclusive na derrota de Ahmadinejad, não terá trânsito fácil no Irã. Nem junto ao atual governo de Israel, que elegeu o Irã como principal inimigo.
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