quarta-feira, 3 de junho de 2009

MÍDIA CONTEMPORÂNEA, NEM VELHA, NEM NOVA, MAS UMA SOMA DAS QUALIDADADES DAS DUAS

Eu estaria sendo simplista se dissesse que a MegaBrasil, de Eduardo Ribeiro e Marco Rossi, organizou o 12° Congresso de Comunicação Corporativa, realizado nos últimos dias 27, 28 e 29 de maio, com a competência de sempre. Produzir, em plena crise econômica, um evento com a força que teve este encerrado na sexta-feira passada, envolveu competência sim, mas também coragem e confiança no prestígio e na qualidade do Congresso junto aos patrocinadores, ao público alvo e à mídia em geral. Confiança que foi, mais uma vez, plenamente correspondida.

O 12° Congresso deixou no ar duas mensagens da maior importância em relação à imprensa brasileira. Uma de Ricardo Gandour, Diretor de Conteúdo do grupo Estado, que resume uma preocupação: a sociedade brasileira tem noção da importância da liberdade de imprensa? Parece uma questão fora de propósito, mas não é para quem tem claro que a liberdade de imprensa é um dos pilares da democracia.

A outra mensagem tem a ver com a primeira e foi colocada pelo premiado como Personalidade da Comunicação 2009, Nelson Sirotsky, presidente do grupo RBS e pelo governador José Serra, que lhe entregou o troféu: a urgente necessidade de regulamentar o direito de resposta, em função da extinção da malfadada lei de imprensa da ditadura. De fato, o direito de resposta é um elemento essencial para um bom e justo relacionamento entre a imprensa livre, a cidadania e as instituições.

A crise da imprensa, provocada pela expansão das novas mídias, foi uma das idéias-força do Congresso. Mais uma vez me reporto à fala de Ricardo Gandour que disse que é importante valorizar o papel da edição, dos editores, em meio à cacofonia provocada pela internet, na qual milhões escrevem e opinam. Gandour lembrou que historicamente cabe aos editores oferecer ao público um cardápio de assuntos hierarquizados por importância e relevância para a sociedade e dar-lhes um tratamento informativo ou analítico de qualidade. Função que, na sua visão, deve ser preservada e estimulada em todas as mídias, da impressa à web.

Na contra-mão da fala de Gandour, foi citada em uma das palestras, uma frase do tycoon Rupert Murdoch, donos de veículos de mídia por todo o mundo. Para Murdoch, a web está provocando um efeito semelhante ao surgimento da imprensa há 500 anos, que propiciou uma fenomenal democratização da informação. Essa democratização estaria afrontando o poder dos editores, dos publishers, enfim da elite da mídia. Arremata Murdoch: “Agora é o povo quem manda (now it’s people who are taking control)”. Isso será bom ou mau?

Já o jornalista Vicente Vilardaga se fez porta-voz dos seus colegas que estão surfando nas ondas da web, sem amarras com a mídia tradicional, produzindo blogs de informação, opinião, lazer, seja lá o que for, mas enfrentando uma questão vital: como financiar a sua atividade? Vilardaga, inspirando-se em discussões que já ocorrem no mundo da mídia, propõe a “monetização da web”. Ou seja, o pagamento por artigos e informações nela produzidos, como já se fez no caso da venda de músicas. Eu, que produzo o blog Serrano & Cia, acho essa discussão da maior importància. Cabotinismos à parte, a questão é realmente relevante para democratizar com qualidade o fluxo de informações na web. O desafio é achar os caminhos.

Como conviver com as mídias sociais na web foi outra idéia-força do Congresso. As empresas perdem o controle de suas marcas na web, pois seus consumidores, e outros nem tanto, podem manifestar opiniões sobre uma marca, suas qualidades e seus defeitos para milhões de pessoas, a uma velocidade alucinante, criando correntes favoráveis ou contra ela. É um fenômeno que atinge a todas as instituições e a políticos e profissionais.

Foi apontada a necessidade das empresas e instituições monitorarem o tráfego de suas marcas ou de sua reputação no universo da Internet - no Facebook, Orkut, Twitter, You Tube, entre muitos outros - e, quando recomendável, interagirem com esse fluxo de informações, procurando influenciá-lo. Para isso, é necessário dominar ferramentas tecnológicas mas, mais importante, é saber como fazê-lo, para não ser mal recebido, ser acusado de adotar procedimentos invasivos, que provoquem repulsa ao invés de simpatia e acolhimento.

É preciso criar uma ética que balize o monitoramento e a interação e usar uma linguagem apropriada ao meio, flexibilizando o discurso rígido e formal que caracteriza as manifestações empresariais. As ações precisam estar sempre alinhadas com a estratégia de Relações Públicas da empresa ou da instituição. É preciso agir com cautela, criatividade e sempre preservar e reforçar a credibilidade da empresa, sua marca, seus produtos. A utilização da internet por Barack Obama, tanto na campanha quanto agora na Casa Branca, foi muito citada como um exemplo inspirador.

Quando se fala em crise da imprensa e o vigor das novas mídias sempre se corre o perigo de cair em um clima de disputa, superação, substituição de uma pela outra. É um erro. A convivência da mídia tradicional com as novas resulta, isto sim, em uma mídia contemporânea. Esta soma a enorme capacidade da mídia tradicional em recolher e distribuir informações com a enorme potencialização da interação direta, sem intermediários, entre pessoas, instituições e públicos. O resultado para a comunicação corporativa, ou seja de quem for, é a possibilidade de ter acesso a mais canais, atingir maiores audiências e obter mais e melhores resultados. Como fazer isso, foi o que se discutiu no 12° Congresso promovido pela MegaBrasil e continuará ser discutido nos próximos.

Um comentário:

  1. Cláudia Leite4/6/09 9:01 PM

    Ótimo, adorei, precisamos mesmo discutir todos estes temas, não dá para fechar os olhos, é preciso agir....

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