TUNEL PLÍNIO MARCOS: UMA HOMENAGEM UNDERGROUND A UM AUTOR UNDERGROUND? NÃO FAZ SENTIDO

Plínio Marcos

Outro dia, indo a Santos, minha terra natal, pela Rodovia dos Imigrantes constatei, ao descer a serra, que um dos túneis leva o nome de Plínio Marcos.

Fiquei encafifado. Por que essa homenagem, por que dar o nome dele a um túnel, mesmo que numa estrada que liga São Paulo à Santos, que também é a terra natal de Plinio Marcos?

Hoje, fui dar uma pesquisada no Google, para que alguma luz iluminasse essa curiosidade.

Deparei-me com dois textos sobre Plinio Marcos que o chamam de luz no fim do túnel.

Encontrei em um blog um texto de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de agosto de 1980, bem antes da construção da pista descendente da Imigrantes, na qual está o túnel. Lá pelas tantas diz o texto:

"Espécie de "enfant terrible" saído das camadas mais humildes da população, colocando com garra raiva e muita contestação o que observou em sua infância adolescência e juventude nas zonas mais pobres de Santos e São Paulo, Plínio Marcos se tornou um "maldito" nos anos mais duros da repressão. Suas peças abordando problemas sociais prostituição, homossexualismo, desemprego, violencia e tortura policial etc. o colocaram em pouco tempo no "index" e Plínio passou também a ser ceifado na imprensa e mesmo tentativas de lhe dar proteção em órgãos consolidados (exemplo: Mino Cartana "Veja") acabaram sendo podadas por " ordens superiores".
Acesas as primeiras luzes no final do túnel, abrindo-se a fresta da abertura por onde começam a sair as peças que durante a longa noite da inquisição permaneceram nas gavetas medievais da censura. Plínio Marcos a exemplo do que enfrentam(ram) tantos exilados (de Glauber Rocha a Luis Carlos Prestes) passa a ser contestado e criticado e mesmo negado".

Depois, no blog Jornalismo Minuanico, Carlos Munuano escreveu, em 2006, , citando Kiko Barros, 38, filho de Plínio Marcos, e atualmente responsável por cuidar da obra de seu pai:

"Kiko pretende também desfazer o que ele considera alguns equívocos, como o estigma de “maldito” associado a Plínio Marcos por seu mergulho nas profundezas sórdidas da alma humana. Para Kiko, seu pai é incompreendido até hoje. “Ele é, na verdade, uma luz no fim do túnel, nutria um profundo amor pela raça humana, e, por isso mesmo, denunciou em sua obra, durante toda a sua vida, a destruição do homem pelo próprio homem.”

Não deixa de ser uma curiosa coincidência essa associação da vida libertária de Plínio Marcos com a expressão "luz no fim do túnel", que remete à esperança. tempos melhores, etc,etc, e o fato de um túnel ter seu nome.

Continuando a pesquisa deparei-me com um texto de Luiz Caetano, no site "Falando do Santos FC". Diz lá o Caetano:

"Quem desce a serra pela Imigrantes, pista nova, ao adentrar no terceiro túnel poderá vislumbrar uma placa: Túnel Plínio Marcos. ... Sem dúvida alguma, ter o nome eternizado numa praça, em teatros e espaços culturais de expressão nacional é algo apropriado ao conjunto da sua obra.

Mas, pensando bem, pela característica geográfica onde se localiza a obra de engenharia, o TD-3 (Túnel Descendente 3) e tendo em conta que por ali transitam milhões de pessoas, constar aquele lembrete “Plínio Marcos”, até que se trata de um estratégico ponto visual. Um justo memorial ao dramaturgo".

Depois, descobri quem foi o autor da homenagem:

Foi o deputado estadual, Rodrigo Garcia, que apresentou Projeto de lei nº 926, de 2003, que dizia:

"Artigo 1º- Passa a denominar-se “PLÍNIO MARCOS” o Túnel localizado entre os Kms 53+139m e 56+147m da SP - 160 Sul.

Artigo 2º- Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação"

Depois de historiar a obra de Plínio Marcos, o projeto termina assim:

"Visto o exposto, com a certeza de que não se trata apenas de uma justa homenagem, mas também uma honra para a citada construção receber o nome de tão ilustre cidadão, contamos com a aprovação unânime dos nobres colegas ao projeto que oferecemos à deliberação desta Casa".

O interessante é que o deputado Rodrigo Garcia é do PFL, o partido que substituiu a odiosa ARENA, da ditadura que tanto perseguiu Plínio Marcos.

Fiquei pensando com meus botões sobre qual seria a motivação da homenagem. Seria uma homenagem 'underground" para um autor considerado "underground"? Qual o sentido disso? Afinal, trafegar pelos túneis das imigrantes é uma experiência mais claustrofóbica do que libertária, como se pode ver pelas imagens abaixo.

Sugiro que para melhorar o espírito da homenagem seja colocada na saída do túnel a expressão usada por Millarch e Kiko: "Aqui está a luz no fim do túnel que Plínio Marcos sempre representou"

Felizmente, Plinio Marcos é nome de vários teatros, espaços, bibliotecas e prêmios no Brasil, homenagens que tem tudo a ver com a sua vida e sua obra. E não são poucas:

TEATRO NACIONAL PLÍNIO MARCOS – Complexo Cultural da Funarte, Brasília

TEATRO PLÍNIO MARCOS – Shoping Pompéia Nobre, Rua Clélia, 33, São Paulo

SALA DE ESPETÁCULOS PLÍNIO MARCOS – Secretaria de Cultura, Santos, SP

BIBLIOTECA MUNICIPAL PLÍNIO MARCOS – Praça Palmares, Caruara, Santos, SP

ESPAÇO PLÍNIO MARCOS – Praça Benedito Calixto, Pinheiros, São Paulo

ESPAÇO CULTURAL PLÍNIO MARCOS – Ilha Comprida, Vale do Ribeira, SP

ALBERGUE PLÍNIO MARCOS – Rua Bartolomeu de Gusmão, 98, São Cristóvão, RJ

MARCO TEATRAL PLÍNIO MARCOS – sede do Teatro União e Olho Vivo, SP

PRÊMIO PLÍNIO MARCOS – Premiações de teatro da Baixada Santista, Santos, SP

PRÊMIO ESTÍMULO PLÍNIO MARCOS, teatro adulto – Secretaria Cultura Estado São Paulo

PRÊMIO PLÍNIO MARCOS – Festival Internacional de São José dos Campos, SP

ESPAÇO CULTURAL PLÍNIO MARCOS – no Dique da Vila Gilda, em Santos, com cópia do acervo de Plínio Marcos

Tirei esta lista do site oficial sobre ele, http://www.pliniomarcos.com/.

No site não há nenhuma referência ao túnel.

Faz sentido.