domingo, 19 de julho de 2009

OS POLITICOS ANDAM NO MUNDO DA LUA, ESTÁ NA HORA DE RENOVÁ-LOS

O semanário Opinão registrando a inesperada vitória do MDB em 1974

Vivemos um daqueles momentos em que os poderosos perdem a noção da realidade, se desconectam da sociedade, operam em um mundo próprio, em que ignoram o que está acontecendo no país.

O "affair" José Sarney é típico, altamente simbólico desses momentos, e envolve, colateralmente, o governo federal, na medida que o presidente Lula tem apoiado a manutenção de Sarney na presidência do Senado.

Houve um momento da ditadura militar em que o governo de plantão perdeu a noção do verdadeiro humor da sociedade brasileira. Foi no governo Geisel. Imbuído da missão de promover uma distensão política “lenta, segura e gradual”, em outras palavras, controlada por ele, Geisel relaxou as restrições à propaganda eleitoral, abrindo espaços na TV ao proselitismo oposicionista do MDB. Certamente, imaginava que ao dar essa abertura ganhava credenciais liberais e ainda manteria o poder da ARENA, o partido que dava sustentação o regime no Congresso, dando tinturas democráticas à ditadura militar.

Quando as urnas foram abertas, o que se viu foi uma avalanche de votos na oposição, especialmente no Sudeste e no Sul do país, como mostra a capa do seminário Opinião, de oposição, estampada na abertura deste post. A representação do MDB na Câmara e no Senado deu um pulo enorme, crescendo em 65% o seu número de cadeiras na Câmara Federal. Pulou de 47% contra 28% na legislatura anterior. Nas Assembléias Legislativas também houve um salto. Em função desse crescimento, ficou mais difícil para o governo usar o Congresso como legitimador do regime. Nas eleições seguintes, o governo castrou a propaganda eleitoral, especialmente na TV.

Mas o que interessa aqui é que o regime se iludiu com a sua aceitação pela opinião pública e tomou um contravapor inesperado. Na edição de 22 de novembro de 1974 do Opinião, escrevi em um texto sobre o então eleito senador Orestes Quércia, do MDB: “Além do apoio da juventude, dos trabalhadores e dos adeptos do voto nulo nas últimas eleições (1970), o MDB paulista contou como forte aliado, com a erosão das bases arenistas dentro do Estado, surpreendente, especialmente no interior. A união de todos esses fatores levou o MDB à vitória por uma ampla margem de votos...A Arena totalmente autoconfiante, lastreava o seu contínuo crescimento em tempos em que a conjuntura era outra e foi surpreendida de calças curtas”. Enfim, como relata outra matéria de Opinião, o MDB ganhou porque falou “o que o povo queria ouvir”.

Transponho esses raciocínios e análises para o momento atual. Já que os políticos mostram uma enorme cegueira em relação ao sentimento da sociedade sobre o seu comportamento ético e sobre seu real interesse em representar os interesses do povo pergunto-me: uma reviravolta semelhante à de 1974 pode ocorrer nas próximas eleições?

É claro que as circunstâncias políticas são muito diferentes. Estamos numa democracia, não numa ditadura. Nas eleições se votará não contra um governo ditatorial , nem contra um partido oficial único. Mas pode-se votar em candidatos que demonstrem vontade de mudar tudo isso que está aí, como dizia Ulysses Guimarães na época da ditadura. Em candidatos que recuperem o sentido de representatividade de seus eleitores, que se pautem por princípios éticos, não se julguem acima do bem ou do mal. Normalmente, o Congresso se renova em torno de 50% a cada eleição. O ideal é que, desta vez, fosse renovado em 100%.

Não é uma tarefa fácil, porque as máquinas partidárias detém o monopólio de escolher os seus candidatos. E o jogo é muito fechado, dificilmente penetrável por nomes e forças novas. Mas se as listas de candidatos se mantiveram imutáveis, pode-se protestar via votos brancos, nulos ou abstenção.

Quem sabe assim não se dá um susto nos políticos para que eles percebam que ninguém está satisfeito com o que andam fazendo em Brasília?

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