Por Feichas Martins [*]
BRASÍLIA [ ABN NEWS ] - O presidente Lula vem tentando fazer articulações políticas que podem lhe causar desgastes desnecessários, porque não é função do Presidente da República, que não disputa reeleição, articular sua sucessão, ainda mais se investindo sobre outros partidos.
Na cultura política brasileira, quase todo Presidente se comporta como um monarca, que faz e desfaz politicamente articulações para que seu partido continue no poder, o que, até certo ponto, é justificável, porque todo partido deve disputar o poder.Mas, a alternância de poder é uma característica do regime democrático, como se supõe seja o brasileiro, e cabe ao partido, através de suas lideranças, fazer as articulações, mantendo o Presidente, que governa acima dos partidos e no interesse de toda a nação, eqüidistante (não alheio) do processo, de forma que sua isenção seja garantia até mesmo da legitimidade do voto popular.
O Presidente precisa governar, e seu tempo é exíguo para que se meta em articulações, se não vai mesmo disputar a reeleição ou se está impedido para a mesma – o que é o caso de Lula.Quando acontece uma antecipação da campanha eleitoral, como vem ocorrendo, o Presidente da República não deveria permitir que isso desviasse sua concentração para o cumprimento do mandato que lhe foi conferido pelas urnas, do qual ainda restam 14 meses.Essa idéia de que o Presidente tem que fazer articulações, tem que fazer seu sucessor, tem que indicar o candidato do partido pelo qual se elegeu é passível de críticas.
Dedicando-se às articulações, como o grande engenheiro político ou o arquiteto-mor do poder, o Presidente vai aos poucos antecipando o fim do seu governo, porque são tantos os problemas do País, que custa ao povo entender quem está cuidando dos seus interesses, das suas aspirações, das suas reivindicações.
George Balandier fala da solidão do presidente da república em geral, em seu “O Poder em Cena”, e observa que o presidencialismo tende a isolar a sua figura central.Lula precisa de um coordenador político, um articulador de sua confiança, que represente seu partido e cuide da seleção de um candidato que seja representativo e tenha chances reais de vencer ou se manter de uma forma altiva como protagonista político, mesmo respeitando a alternância de poder.Os presidentes do regime militar tinham como articuladores maiores o general Golbery do Couto e Silva, os ministros Mário Andreazza, César Cals, Jarbas Passarinho e o próprio jurista e ministro Leitão de Abreu. Os presidentes eram poupados, embora tivessem a palavra final...
[*] Feichas Martins, articulista colaborador da ABN NEWS - Agência Brasileira de Notícias, é Palestrante, Jornalista, Mestre em Ciência Política pela UnB, Professor Universitário, Especialista em Planejamento Político-Estratégico e Consultor Político-Eleitoral. É membro do Comitê de Ética e de Liberdade de Expressão da Associação Brasiliense de Imprensa [ABI-DF] e da Federação Nacional da Imprensa [Fenai-Faibra]
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