quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Da roça para o mundo, de madeireira a ambientalista, a longa saga da família Maggi


Veja desta semana publicou a matéria de destaque com o título "A metamorfose de Blairo", referindo-se ao governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, conhecido como o "rei da soja".

O resumo da matéria é o seguinte: "O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, já foi chamado de "estuprador da Amazônia". Agora, mudou o discurso e a prática. Quer até premiar os fazendeiros que não desmatarem. Por essas e outras, tornou-se xodó dos ambientalistas".

Enfim, o homem que, segundo o Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, plantaria soja até os Andes, descobriu que a sustentabilidade é fundamental para o seu negócio.

É mais um passo da longa saga da família Maggi, que saiu do Rio Grande do Sul, foi serrar madeira no Oeste do Paraná, na esteira dos planos de desenvolvimento do governo Vargas, enriqueceu e deslocou-se para o CentroOeste, estimulada pelos planos de desenvolvimento dos governos militares pós-64.

O começo da história foi assim, como conta Carlos Alberto Franco da Silva, da Universidade Federal Fluminense, em "Trajetórias Geográficas do Pioneiro André Antônio Maggi na abertura da fronteira oeste paranaense":

"André A. Maggi, filho de imigrante de origem italiana, nasceu em 30 de janeiro de
1927 , no distrito de Morro Azul, no município de Torres (RS). Até os 25 anos de idade morava na casa dos avós. Depois que eles morreram, começou a trabalhar com seu tio, João André Maggi, como peão, limpando terrenos, plantando mandioca. Em 1948 eles abriram um pequeno engenho de farinha de mandioca movido a boi, na fazenda Pontal. Nesta época, André Maggi trabalhava dia e noite arrancando mandioca para a produção de farinha. Além de mandioca, ele plantava banana e cultura de subsistência.

Em 1952 André Maggi se casou com Dona Lúcia. A falta de oportunidades em Torres e a notícia de terras férteis e baratas no oeste paranaense estimularam-no a deixar sua terra em Torres e participar da abertura da fronteira guarani. De certo modo, sua origem pobre e espírito laborioso funcionavam como impulso à busca de melhores oportunidades. Desse modo, André Maggi levou sua mulher, grávida de mais um filho, Blairo Maggi (atual “rei da soja” brasileira), e suas duas filhas a uma aventura no povoado de Gaúcha. Acompanhando-os, nessa viagem, veio Arnaldo Boff, um grande amigo e atual funcionário de uma de suas fazendas. A viagem para a fronteira foi árdua, mas a esperança de conseguirem terra os movia. Na realidade, é este movimento por eles desenvolvido que materialmente cria e caracteriza a abertura de uma fronteira.

(...) chegando em Gaúcha praticamente descapitalizado e sem poder adquirir terras agricultáveis, André Maggi foi trabalhar na Serraria São Pedro, que era a maior geradora de emprego da região e pertencia à empresa Colonizadora Gaúcha. Durante algum tempo, essa serraria forneceu madeira para a construção da Ponte da Amizade, entre Brasil e Paraguai. Na realidade, cabe ressaltar que as companhias de colonização eram, de fato, madeireiras. A terra era um elemento residual e tinha pouco valor. A extração madeireira comandava a apropriação de valor. A produção atendia o mercado interno regional e também Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul".

A íntegra do texto pode ser lida aqui

Silva também analisa a saga da família no Centro-Oeste em " Transnacionalização do grupo André Maggi a partir do cerrado mato-grossense":


"Em áreas de fronteira, os pioneiros capitalistas são animados de um espírito de conquista de novas oportunidades de reprodução ampliada do capital. André Maggi foi um desses homens. Após participar da colonização e abertura da fronteira do oeste paranaense, ele se lançou a um grande desafio: a exploração do cerrado. Os líderes dessa marcha pioneira foram os precursores sulistas, nordestinos, mineiros e paulistas submergidos pelo programa do Estado Militar, que visava a incorporação das regiões periféricas do país à dinâmica do capital localizado nas regiões Sul e Sudeste. Por outro lado, havia interesse do capital multinacional em transferir o pacote tecnológico da Revolução Verde para o país, subordinando, cada vez mais, a dinâmica do espaço agrário ao processo de acumulação urbano-industrial.


A rápida conquista do cerrado, a partir da década de 70, foi obra de uma política territorial do Estado, em face da crise energética mundial, da busca de superávit comercial através da criação de corredores de exportação e das rápidas transformações verificadas nos espaços agrários das Regiões Sul, Sudeste e Nordeste. A modernização da agricultura e as históricas questões fundiárias serviram de base para a expulsão de camponeses e deslocamento de agricultores capitalizados que se dirigiram do Sul e Nordeste para a Amazônia e Centro-Oeste brasileiro".


A íntegra do texto está aqui


Da roça para o mundo, de madeireira a ambientalista, a saga de uma família brasileira. Infelizmente, uma exceção.

Um comentário:

  1. Italianos sao muito importante no desenvolvimento do Brasil !!

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