terça-feira, 15 de setembro de 2009

A indústria brasileira e o pré-sal: esse filme já passou e teve final surpreedente

Angra II: devaneios nucleares comprometeram a Villares

Quando leio as reportagens econômicas sobre como a Petrobras vai se equipar para explorar o Pré-sal, me lembro de meus tempos de repórter na Gazeta Mercantil, entre 1975 e 77, quando cobria o setor de Máquinas e Equipamentos, na então editoria de Indústria.

No atual noticiário, lá está Associação Brasileira da Indústria de Máquinas – a Abimaq - reivindicando apoio oficial para que as empresas instaladas no Brasil possam atender às futuras necessidades da Petrobras. Do lado do governo, lá está Lula prometendo que o máximo de máquinas e equipamentos será comprado no Brasil.

Pois nos anos 70, governo Geisel, havia o II PND, Plano Nacional de Desenvolvimento, arquitetado pelo Ministro do Planejamento, João Paulo dos Reis Velloso, que apostava no desenvolvimento das indústrias de base, aqui como as de energia, petróleo, petroquímica, mineração e, principalmente, siderurgia. O ministro da Indústria e do Comércio era o nacionalista e simpático Severo Gomes, que depois acabou brigando com o regime.Havia a intenção, por parte do governo, de que a maior parte possível dos equipamentos e máquinas necessários para o desenvolvimento das indústrias de base fossem produzidos no Brasil.

À época, a Abimaq e a Abdib – que só se chamava Associação Brasileira das Indústria de Base e hoje adicionou Infraestrutura ao seu nome – brigava para aumentar o índice de nacionalização dos equipamentos em que as siderúrgicas, mineradoras, petroquímicas pretendiam investir.Eram empresários como Cláudio Bardella (presidente da Abdib), os irmãos Carlos e Paulo Villares, Luís Eulálio Bueno Vidigal, Einar Kok (presidente da Abimaq), entre outros, que almejavam índices de nacionalização de até 50% para os equipamentos. E se queixavam das vantagens comparativas dos concorrentes internacionais, que tinham a seu favor financiamentos, apoiados por seus governos, para vender os seus equipamentos.

Ao mesmo tempo em que reivindicavam melhores índices de nacionalização e financiamentos, esses empresários eram pressionados pelo governo para investir em suas empresas e aumentar sua capacidade de produção, sob a promessa de que teriam encomendas garantidas. O II PND era a bíblia da estratégia do governo Geisel para construir uma economia autárquica no Brasil, o mais auto-suficiente possível tanto nas indústrias de base como nas de bens consumo.

Só que o mundo sofria as conseqüências do choque do petróleo de 1973 e os objetivos do II PND já padeciam de irrealismo. Em 1979 sobreveio o segundo grande choque do petróleo e o sonho autárquico ficou mesmo sem financiamento, pois o dinheiro internacional sumiu e nossos dólares tiveram que bancar ainda mais as importações de combustível para o país não parar. Resultado: os projetos audaciosos perderam velocidade, quando não pararam, e os fabricantes de máquinas e equipamentos viram sua capacidade ociosa subir, subir, subir.

O caso mais dramático certamente foi a da Vibasa, investimento da Villares em uma indústria de equipamentos para as usinas nucleares, que surgiriam em consequência do Acordo Nuclear assinado com a Alemanha, à época. A construção da Vibasa foi exigida pelo governo – e deu com os burros n’água, afetando dramaticamente a saúde da empresa dirigida pela família de Paulo Villares. Escaldado, Cláudio Bardella passou a também investir no mercado financeiro, onde os lucros eram garantidos.
Se na área econômica a atuação desses empresários teve tantos percalços, também produziu um efeito político. Incomodados pelas pressões dos burocratas e czares da área econômica, esse grupo de empresários acabou produzindo, ainda em 1977, um documento em que alertavam para a necessidade de uma abertura política no país. Foi uma carta publicada pela Gazeta Mercantil, Estadão e Jornal da Tarde.Nasceu, principalmente, da angústia de Einar Kok, presidente da Abimaq.
Certa tarde, na antiga sede da Abimaq/Sindimaq, no prédio da FIESP, então no viaduto Ana Paulina, no centro de São Paulo, Kok sentou-se para repartir suas angústias com repórteres que cobriam a área, entre eles eu. Queixou-se de como o fechamento do regime desanimava os jovens, entre eles seu filho, que pensava mudar-se do Brasil, em busca de ares mais livres. Conversa vai, conversa vem, pediu-nos para voltar dois dias depois. Voltamos e ele nos entregou a carta, que nossos jornais publicaram com destaque. A Gazeta Mercantil, me lembro, na primeira página, à direita, embaixo.

Essa carta gerou frutos como o Fórum de Líderes da Gazeta Mercantil, nos quais os empresários começaram a discutir mais abertamente os problemas do país.Foi uma das primeiras movimentações políticas contra o regime, na década de 70, anterior às greves do ABC – e que hoje é pouco lembrada.

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