Eike Batista botou sua máquina de relações públicas para funcionar neste fim de semana passado.
Deu enormes entrevistas ao O Estado de S.Paulo e à Folha de S.Paulo.
O objetivo foi claro: tentar legitimar sua pretensão, apoiada por Lula, de conseguir um lugar no Conselho de Administração da Vale.
Um trecho da entrevista ao Estadão:
OESP - A Vale tem sido criticada pelo governo por investir fora do País.
EB - Acho que a crítica faz sentido. Ela investiu em negócios lá fora que não se equiparam com a qualidade dos ativos que ela tem no Brasil. Em Carajás (PA), ou mesmo em Minas Gerais, a Vale só tem caviar. São as minas mais ricas do mundo, minas com 100 anos de vida, minério de qualidade. O que se comprou fora do País não corresponde a esse padrão de qualidade.
OESP- A compra da Xstrata (mineradora anglo suíça)...Que não aconteceu...
EB- Ainda bem que não aconteceu! Mas a decisão era comprar. Você ia misturar caviar com osso. Mais da metade dos ativos da Xstrata não são de classe mundial. Carajás é um ativo de classe mundial. Você não pode ir lá e comprar uma companhia onde a metade dos ativos não tem esse padrão.
OESP- O que o sr. faria diferente?
EB- Ocupar mais o espaço na área siderúrgica, agregar mais valor ao minério de ferro e investimento maciço em logística. Companhias desse porte, na minha visão, teriam de fazer tudo para agregar mais valor. Não precisa fazer o produto final. Mas pelo menos até o aço semiacabado. Você emprega muita gente, agrega valor, agrega dólares no PIB (Produto Interno Bruto).
OESP- Até parece o presidente Lula falando. O sr. andou conversando com ele sobre isso, não é?
EB- Não. Essa conversa eu não tive direto com o presidente. Mas o Lula percebe essas coisas no ar. É síntese e bom senso. Ele não vai pedir uma coisa que depois não possa vender do outro lado. Você não precisa fazer um aço superespecial porque aí tem excesso de capacidade lá fora. Mas algumas etapas a mais você pode fazer no Brasil, em vez de só exportar minério. A conversa é essa.Apesar das críticas do governo, a Vale tem dado dividendos enormes a seus acionistas.Podia ser maior, não? Para gerar mais dividendos lá na frente você poderia pagar menos durante um prazo e aumentar os investimentos. Não olhar só para projetos com taxa de retorno de 50%. A Vale está num tamanho que precisa fazer projetos para beneficiar o Brasil.
OESP- Pelo que a gente está entendendo, não haveria espaço na Vale para Roger Agnelli (presidente da companhia) e o sr. juntos.
EB- Olha, numa boa, acho que ele fez uma gestão que tem méritos. A China cresceu, ele estava lá. Quando ele assumiu, a Vale era uma empresa muito menor do que hoje. Mas, às vezes, existem fases em que se pode fazer projetos de retorno menor, mas mais interessantes para o País do que projetos só na área de mineração. A gente não pode ser um eterno exportador de matéria-prima. Podíamos ter chegado para os chineses e combinado que metade do minério de ferro que eles comprassem fosse transformado em aço no Brasil.
As entrevistas de Eike Batista se somam às constantes matérias, sem fonte explícita, publicadas na imprensa dando conta que o presidente Lula quer afastar Roger Agnelli da presidência da Vale, pelos mesmos motivos apresentados por Eike Batista e pela empresa ter dispensado funcionários e suspendido investimentos no começo da crise econômica. Lula acha que a Vale deveria ter dado exemplo para as demais empresas, mantendo seu nível de atividade para criar um clima favorável à superação da crise mais rapidamente no Brasil.
Agnelli é presidente por indicação do Bradesco, um dos sócios da Vale, que não quer vender sua participação à Eike. Agora, o minerador carioca se contenta em comprar uma parte da participação da Previ para ter um assento no Conselho de Administração da empresa e poder dar conselhos à sua direção executiva.
Boa briga, essa.
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