
Nunca antes no Brasil e mesmo no mundo se viu coisa igual: o presidente do Banco Central, eleito, sete anos antes, deputado federal pelo principal partido da Oposição, filia-se misteriosamente ao maior partido da base do Governo. Logo depois, viaja 15 mil quilômetros. Para que? Para torcer que o Comitê Olímpico Internacional escolha o Rio como sede das Olimpíadas de 2016 – um momento de grande exposição midiática (e certamente eleitoral) algo que nenhum outro presidente de Banco Central, desde os primeiros Jogos na Grécia, há mais de 20 séculos, achou necessário ou desejou fazer.
Minha mãe me dizia: quando alguém esconde alguma coisa é porque não se trata de coisa boa para os outros.
Vamos tentar entender o que está acontecendo, como uma porção de fatos se entrelaça.
A. O que é que o sr. Henrique Meirelles pretende com a filiação ao PMDB e por que ele condicionou essa filiação a uma prévia conversa com Lula, ocorrida só anteontem, no princípio da noite, no limite para a decisão, véspera da viagem presidencial para Copenhague e incluindo Meirelles na comitiva como carona convidado. É estranho, não?
B. O que o presidente está tramando, quando convence Henrique Meirelles a se filiar ao PMDB e, ao mesmo tempo, garante a todos os nós que Meirelles não deixará o Banco Central até a data-limite para ser candidato nas eleições de 2010? Meio esquisito, não?
C. Por que o presidente Lula conversou também anteontem à tarde (antes do encontro com Meirelles) com o governador Aécio Neves, um encontro com características interessantíssimas? Aécio tinha acabado de conversar, em Belo Horizonte, com Zito, prefeito da cidade fluminense de Caxias. Zito foi lançado candidato ao governo do Estado pela direção do PSDB, depois que a candidatura da senadora Marina Silva à presidência da República, pelo PV, esfacelou a possibilidade de Fernando Gabeira ser o candidato ao governo estadual por uma ampla aliança PSDB-DEM-PPS-PV. Mas Zito se dispôs a abrir mão dessa candidatura em favor da reeleição de Sérgio Cabral Filho, se este apoiasse o candidato do PSDB – de preferência Aécio. Que lambança, hein?
D. Também é engraçado Aécio ter dito à imprensa que essa conversa com Lula já havia sido marcada pelo Presidente para o primeiro dia em que ambos estivessem no Brasil. O jornal VALOR foi o único a conferir a agenda presidencial e descobriu que foi Aécio quem, em cima da hora, solicitara o encontro. Por que essa conversa misteriosa?
Em Goiás, se alguém sabe onde é que esses fatos todos se juntam está com a boca fechadinha. Em Brasília, duvido que mais de três pessoas no Planalto entendam o que está acontecendo. Mas todos, inclusive Lula, só estão por dentro de uma lasca das estratégias de Aécio e Serginho Cabral. Em São Paulo, José Serra deve estar enxergando metade – o que Meirelles quer; o que Alkmin quer com a fuga de seu fiel escudeiro, Gabriel Chalita, para o Partido Socialista; e até desconfia dos acertos entre Aécio e Serginho Cabral (porque sabe que os dois, há muitos anos, são unha e carne). Mas está doido para juntar as peças da outra metade.
A rapaziada da imprensa – eu inclusive – está meio perdida, porque vive de perguntar e ninguém, pelo menos por enquanto, responde verdades. De todo esse povo que mencionei aí em cima, só os médicos de Dilma estão falando tudo aquilo que sabem.
Mas algumas coisas são certas Meirelles vai ser candidato e terá todo o dinheiro necessário para a campanha – seja lá para o que for e muitas vezes mais do que em 2002. Não vai atrapalhar Iris Rezende, senão este teria sumido com,o livro de filiação. D. Dilma está sob forte ataque por conta dos maus resultados nas últimas pesquisas, por isso está gritando para o mundo
que continua sadia e guerreira. Michel Temer está doidinho para sacramentar o acordo eleitoral porque já está sentindo o bafo de Quércia nas orelhas. O PSDB está perdidão: sabe que Serra é o melhor candidato em termos eleitorais, mas Aécio lança a sedução de que está se repetindo, 25 anos depois, a mesma diferença entre seu avô Tancredo e Ulysses Guimarães: o paulista Ulysses era o mais combativo, o mineiro Tancredo era mais esperto e flexível nas negociações.
Uma conversa com a esperta repórter Larissa Bittar foi vital para sentir o clima de “estou aqui mas não sei bem porquê” entre os 300 presentes à filiação de Henrique Meirelles no PMDB.
===============================
“Só podemos traçar, calma e sabiamente, nosso futuro, quando conhecemos o caminho que nos trouxe até o presente.”
Adlai Stevenson (1900-1965), candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, em 1956, derrotado por Dwight Eisenhower.
Minha mãe me dizia: quando alguém esconde alguma coisa é porque não se trata de coisa boa para os outros.
Vamos tentar entender o que está acontecendo, como uma porção de fatos se entrelaça.
A. O que é que o sr. Henrique Meirelles pretende com a filiação ao PMDB e por que ele condicionou essa filiação a uma prévia conversa com Lula, ocorrida só anteontem, no princípio da noite, no limite para a decisão, véspera da viagem presidencial para Copenhague e incluindo Meirelles na comitiva como carona convidado. É estranho, não?
B. O que o presidente está tramando, quando convence Henrique Meirelles a se filiar ao PMDB e, ao mesmo tempo, garante a todos os nós que Meirelles não deixará o Banco Central até a data-limite para ser candidato nas eleições de 2010? Meio esquisito, não?
C. Por que o presidente Lula conversou também anteontem à tarde (antes do encontro com Meirelles) com o governador Aécio Neves, um encontro com características interessantíssimas? Aécio tinha acabado de conversar, em Belo Horizonte, com Zito, prefeito da cidade fluminense de Caxias. Zito foi lançado candidato ao governo do Estado pela direção do PSDB, depois que a candidatura da senadora Marina Silva à presidência da República, pelo PV, esfacelou a possibilidade de Fernando Gabeira ser o candidato ao governo estadual por uma ampla aliança PSDB-DEM-PPS-PV. Mas Zito se dispôs a abrir mão dessa candidatura em favor da reeleição de Sérgio Cabral Filho, se este apoiasse o candidato do PSDB – de preferência Aécio. Que lambança, hein?
D. Também é engraçado Aécio ter dito à imprensa que essa conversa com Lula já havia sido marcada pelo Presidente para o primeiro dia em que ambos estivessem no Brasil. O jornal VALOR foi o único a conferir a agenda presidencial e descobriu que foi Aécio quem, em cima da hora, solicitara o encontro. Por que essa conversa misteriosa?
Em Goiás, se alguém sabe onde é que esses fatos todos se juntam está com a boca fechadinha. Em Brasília, duvido que mais de três pessoas no Planalto entendam o que está acontecendo. Mas todos, inclusive Lula, só estão por dentro de uma lasca das estratégias de Aécio e Serginho Cabral. Em São Paulo, José Serra deve estar enxergando metade – o que Meirelles quer; o que Alkmin quer com a fuga de seu fiel escudeiro, Gabriel Chalita, para o Partido Socialista; e até desconfia dos acertos entre Aécio e Serginho Cabral (porque sabe que os dois, há muitos anos, são unha e carne). Mas está doido para juntar as peças da outra metade.
A rapaziada da imprensa – eu inclusive – está meio perdida, porque vive de perguntar e ninguém, pelo menos por enquanto, responde verdades. De todo esse povo que mencionei aí em cima, só os médicos de Dilma estão falando tudo aquilo que sabem.
Mas algumas coisas são certas Meirelles vai ser candidato e terá todo o dinheiro necessário para a campanha – seja lá para o que for e muitas vezes mais do que em 2002. Não vai atrapalhar Iris Rezende, senão este teria sumido com,o livro de filiação. D. Dilma está sob forte ataque por conta dos maus resultados nas últimas pesquisas, por isso está gritando para o mundo
que continua sadia e guerreira. Michel Temer está doidinho para sacramentar o acordo eleitoral porque já está sentindo o bafo de Quércia nas orelhas. O PSDB está perdidão: sabe que Serra é o melhor candidato em termos eleitorais, mas Aécio lança a sedução de que está se repetindo, 25 anos depois, a mesma diferença entre seu avô Tancredo e Ulysses Guimarães: o paulista Ulysses era o mais combativo, o mineiro Tancredo era mais esperto e flexível nas negociações.
Uma conversa com a esperta repórter Larissa Bittar foi vital para sentir o clima de “estou aqui mas não sei bem porquê” entre os 300 presentes à filiação de Henrique Meirelles no PMDB.
===============================
“Só podemos traçar, calma e sabiamente, nosso futuro, quando conhecemos o caminho que nos trouxe até o presente.”
Adlai Stevenson (1900-1965), candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, em 1956, derrotado por Dwight Eisenhower.
Nenhum comentário:
Postar um comentário