No seu ex-blog, César Maia indica que o resultado da eleição para a prefeitura de São Paulo, em 1985, foi fraudado. Mas, no longo prazo, Fernando Henrique Cardoso foi beneficiado...
Vejamos o que César Maia conta:
A ELEIÇÃO DE PREFEITO-1988 EM S. PAULO! A ESTRANHA ELEIÇÃO DE 1985!
1. Faleceu, dia 4, o ex-prefeito de SP Miguel Colasuonno. Colasuonno foi da coordenação da campanha de Paulo Maluf a prefeito de SP em 1988. O então deputado federal Cesar Maia foi chamado na parte final da campanha pelo então ex-governador do Rio Leonel Brizola para que fosse a S. Paulo assessorar a candidata Luiza Erundina do PT no processo de apuração, pois o PT achava que poderia haver “problemas”.
2. Assim foi. Ao se apresentar ao PT ele foi conhecer o processo de apuração paralela montado pelo PT. Com a experiência de ter montado a apuração paralela para o PDT em 1982, Cesar Maia conversou com a equipe da candidata e opinou que estava tudo errado. O PT organizou um processo de apuração como se fosse um meio de comunicação: anotação nas mesas, telefone e um conjunto de microcomputadores.
3. Esse processo pode chegar ao resultado, mas não tem como provar nada. Cesar Maia pediu que fosse levado ao juiz coordenador da apuração. Conversou com ele e disse que o PT, com a organização que tinha, iria recolher todos os mapas oficiais, trazê-los para uma central e somar um a um, listando mesa a mesa, com o documento respectivo anexo.
4. Pediu que o PT usasse o esquema que montou como fantasia para a imprensa, mas que recolhesse os mapas um a um. Se houvesse desvio ele teria como provar mesmo que dias depois. Assim foi feito.
5. No dia da eleição, no final da tarde, Cesar Maia foi convidado para as entrevistas da rede Bandeirantes. Encontrou um coordenador da campanha de Maluf, Miguel Colasuonno, que lhe disse: Ouvi no comitê que você salvou a eleição da Erundina. Ficou a informação. Com o falecimento de Colasuonno, o ex-deputado lembrou o fato a este Ex-Blog.
6. Erundina pediu que Cesar Maia a acompanhasse ao programa do Jô Soares, onde gentilmente o colocou entre Jô e ela para que ele falasse da apuração. No final os três terminaram o programa dançando ao som da “banda do Jô”.
7. Apenas para reflexão. Em 1985, Jânio venceu FHC para prefeito de SP. As pesquisas davam FHC. Venceu Jânio. O que não se questionou na época foi o estranho porcentual de votos brancos, 0,9% ou 37.582. Muito baixo. Mesmo os votos nulos, de 154.318 ou 3,68%, foram baixos. Total de eleitores, 4,2 milhões. Diferença Jânio-FHC foi de 141 mil votos. O voto na época ainda era no papel, o que aumentava os votos brancos+nulos. No Rio, em 1985, para 2,7 milhões de eleitores, foram 59.711 (2,2%) votos brancos e 161.134 (5,9%) votos nulos
Meu comentário
A hipótese de César Maia é altamente plausível e a fraude, se houve mesmo, teve consequências políticas nacionais no curto prazo.
A derrota de FHC enfraqueceu o PMDB que, sob o comando vigilante de Ulysses Guimarâes, balizava de perto o governo de José Sarney.
Com a derrota, Sarney aproveitou para livrar-se do Ministério que herdara das articulações de Tancredo Neves e deu uma guinada para a direita. A chefia da Casa Civil foi entregue para Marco Maciel, Fernando Lyra, que chamava Sarney de representante da vanguarda do atraso, foi substituído por Paulo Brossard no Ministério da Justiça e assim por diante.
Em São Paulo, a derrota abriu a porta para a candidatura de Orestes Quércia ao governo, barrando a ascensão de Mário Covas ao cargo de governador, o que daria mais força para a sua candidatura a presidente em 1990. Talvez nem houvesse a dissidência do PMDB que levou à criação do PSDB.
Eu estava em Brasília, na época, como diretor superintendente da Empresa Brasileira de Notícias, hoje Agência Brasil e conversava muito com FHC. Ele não escondia que não queria ser candidato a prefeito, aceitara concorrer como missão partidária.
Pessoalmente, não ser eleito lhe foi benéfico.
O recall da campanha à prefeito lhe garantiu mais de 6 milhões de votos para o Senado em 1986; Covas teve 8 milhões. No Senado, foi Ministro das Relações Exteriores de Itamar Franco, depois Ministro da Fazenda. Comandou a criação do Plano Real e virou Presidente da República em 1994.
Dá para dizer que há fraudes que vêm para bem?
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