domingo, 31 de agosto de 2014

O TURMOIL MARINA, QUE CONFUNDE A ESQUERDA E A DIREITA

Os esquemas clássicos de análise político/eleitoral entraram em pane com a decolagem da candidatura de Marina Silva à Presidência.

Estava tudo certinho, no lugar, Dilma em primeiro, Aécio à distância em segundo, e Campos mais longe ainda, em terceiro. Da performance de Campos dependeria a extensão da disputa PTxPSDB ao segundo turno. Nesse embate, a vitória de Dilma era dada como a mais provável, embora não se descartasse que Aécio poderia ter alguma chance.

Aí o imponderável entrou mais uma vez na cena política brasileira, como ocorreu com Getúlio, Jânio, Tancredo e Collor, causadores de dramáticas mudanças de rumo em nossa história. Marina foi ungida candidata com a morte de Campos.

Sua ascensão liberou a adesão de um vasto contingente de brasileiros que estão insatisfeitos com “com tudo isso que está aí”, mas estavam acorrentados à disputa clássica, antiga e nada motivadora entre PSDB e PT.

Bingo!

E agora como lidar com esse imponderável, com essa Marina que não se encaixa nos esquemas políticos e ideológicos tradicionais e provocou um turmoil nas pesquisas? A saída mais fácil é ancorar o entusiasmo que ela despertou nas manifestações de junho do ano passado, provocadas por insatisfações difusas pouco compreendidas até hoje.

É uma âncora insuficiente.

O Brasil cresceu e mudou muito nas últimas décadas e isso não se limita à tal ascensão de milhões ao que erroneamente se chama de nova classe média. É muito mais complexo, vai além do econômico. Não tem só a ver com as condições básicas de vida, salário, saúde, educação, mobilidade. É também cultural, comportamental, existencial.

O Brasil de hoje, plasmado nos anos 80, 90, 2000 é dramaticamente diferente do Brasil dos anos 50, 60,70. Nos últimos trinta anos,  vivenciamos, com atraso, etapas políticas e econômicas que já deveriam ter sido experimentadas antes e ao, mesmo tempo, fomos tomados por uma voragem cultural, comportamental, consumista que queimou etapas e nos jogou no século XXI.

Marina é a persona que representa essas transformações?

Do ponto de vista de ser diferente do tradicional sim, de ter um discurso não esquerdista e não direitista sim, da pregação preservacionista sim, por pregar congraçamento e superação de divergências  sim – além de protagonizar a história de uma outsider que brilha na vida.

Marina é o diferente que seduz os que querem algo novo lá no Planalto. Já capturou os votos desse contingente de eleitores em 2010.  E esse contingente aumentou muito desde então.

Se ela chegar lá (pode não chegar), o Brasil estará mais uma vez frente ao novo que viveu com FHC, primeiro, e Lula, em seguida.

Será bom, será ruim?

Quem viver verá. 

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