Os esquemas clássicos de análise político/eleitoral entraram
em pane com a decolagem da candidatura de Marina Silva à Presidência.
Estava tudo certinho, no lugar, Dilma em primeiro, Aécio à
distância em segundo, e Campos mais longe ainda, em terceiro. Da performance de
Campos dependeria a extensão da disputa PTxPSDB ao segundo turno. Nesse embate,
a vitória de Dilma era dada como a mais provável, embora não se descartasse que
Aécio poderia ter alguma chance.
Aí o imponderável entrou mais uma vez na cena política
brasileira, como ocorreu com Getúlio, Jânio, Tancredo e Collor, causadores de
dramáticas mudanças de rumo em nossa história. Marina foi ungida candidata com
a morte de Campos.
Sua ascensão liberou a adesão de um vasto contingente de
brasileiros que estão insatisfeitos com “com tudo isso que está aí”, mas
estavam acorrentados à disputa clássica, antiga e nada motivadora entre PSDB e
PT.
Bingo!
E agora como lidar com esse imponderável, com essa Marina
que não se encaixa nos esquemas políticos e ideológicos tradicionais e provocou
um turmoil nas pesquisas? A saída
mais fácil é ancorar o entusiasmo que ela despertou nas manifestações de junho
do ano passado, provocadas por insatisfações difusas pouco compreendidas até
hoje.
É uma âncora insuficiente.
O Brasil cresceu e mudou muito nas últimas décadas e isso
não se limita à tal ascensão de milhões ao que erroneamente se chama de nova
classe média. É muito mais complexo, vai além do econômico. Não tem só a ver
com as condições básicas de vida, salário, saúde, educação, mobilidade. É também
cultural, comportamental, existencial.
O Brasil de hoje, plasmado nos anos 80, 90, 2000 é
dramaticamente diferente do Brasil dos anos 50, 60,70. Nos últimos trinta anos,
vivenciamos, com atraso, etapas
políticas e econômicas que já deveriam ter sido experimentadas antes e ao,
mesmo tempo, fomos tomados por uma voragem cultural, comportamental, consumista
que queimou etapas e nos jogou no século XXI.
Marina é a persona
que representa essas transformações?
Do ponto de vista de ser diferente do tradicional sim, de
ter um discurso não esquerdista e não direitista sim, da pregação preservacionista
sim, por pregar congraçamento e superação de divergências sim – além de protagonizar a história de uma outsider que brilha na vida.
Marina é o diferente que seduz os que querem algo novo lá no
Planalto. Já capturou os votos desse contingente de eleitores em 2010. E esse contingente aumentou muito desde então.
Se ela chegar lá (pode não chegar), o Brasil estará mais uma
vez frente ao novo que viveu com FHC, primeiro, e Lula, em seguida.
Será bom, será ruim?
Quem viver verá.
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