domingo, 22 de março de 2015

REFLEXÕES SOBRE A CRISE ECONÔMICA


A pergunta de 1 milhão de dólares, talvez de 1 bilhão, é: quando o Brasil vai voltar a crescer?

Para mim, será quando o setor privado voltar a investir.

E é aí que a porca torce o rabo.

O pressuposto do investimento privado é a confiança na dinâmica da economia. Se há um horizonte otimista a médio e longo prazo o investidor desembolsa.

A questão é que não há esse horizonte, nem a curto prazo.

O pacote que o governo quer aplicar limita-se a cortar as despesas do governo, reconquistar receitas perdidas,  objetiva equilibrar minimamente o orçamento, diminuir o déficit e a dívida pública. Seu efeito imediato é desacelerar a atividade econômica.

Os otimistas de plantão, especialmente do governo, dizem que a aplicação do pacote fará com que a economia volte a rodar no segundo semestre deste ano.

Espero estar enganado, mas não vejo assim. Ele não é suficiente para ativar o investimento privado no curto prazo.

Há muitas questões no ar.

Quais serão as diretrizes econômicas do governo depois da aplicação do pacote?

Deixará o intervencionismo de lado? Quais serão as regras das concessões em infraestrutura? Qual será o plano de vôo da Petrobrás pós crise? Como se comportará o dólar, questão crucial para a nossa balança comercial? A indústria terá espaço para exportar, especialmente numa quadra em que o preço das commodities no mercado internacional caiu? E a trajetória juros x inflação? Quando o consumidor conseguirá voltar a gastar?

A lista de perguntas poderia se estender muito mais.

O governo reagiu a uma conjuntura desfavorável e aceitou editar o pacote para o equilíbrio das contas públicas, entregando sua condução a Joaquim Levy, um homem de mercado, para sinalizar que a iniciativa é séria.

Aos trancos e barrancos o pacote será aplicado.

Mas não há sinais de construção de uma nova estratégia econômica para o longo prazo, que aponte para um desenvolvimento sem intervencionismos, mantidas e  aperfeiçoadas as conquistas sociais já obtidas.

Para isso, não basta ter Levy no governo.

É preciso repensar o modelo econômico que o governo Dilma seguiu, ancorado em protagonismo e intervencionismo estatal, inflação elevada, juros altos, crédito farto e subsidiado, desonerações setoriais e circunstanciais.

Tudo isso em nome do  emprego e renda, um mantra do governo. Mas que resultou no esgotamento atual, que começa a gerar desemprego.

Como complicadores nesse quadro:

1) não há segurança sobre o desdobramento das, hoje péssimas, relações entre o governo e o Congresso. Qual o ambiente político em que se discutirá a adoção de medidas econômicas de fundo, além do ajuste, para acelerar a economia do país? Redistribuir ministérios  é suficiente para gerar convicções pró-mercado e investimentos no Congresso? Este Congresso está genuinamente preocupado com a economia?

2) O forte potencial inibidor, no curto prazo, do redimensionamento dos investimentos da Petrobrás e seus efeitos sobre sua cadeia produtiva;

3) Os efeitos políticos e econômicos deletérios da operação  Lava Jato, que começa a avançar além Petrobras.

São muitos e complexos nós.


O atual governo terá condições ideológicas e políticas para superá-los e desfazê-los?

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