A pergunta
de 1 milhão de dólares, talvez de 1 bilhão, é: quando o Brasil vai voltar a
crescer?
Para mim,
será quando o setor privado voltar a investir.
E é aí que a
porca torce o rabo.
O
pressuposto do investimento privado é a confiança na dinâmica da economia. Se
há um horizonte otimista a médio e longo prazo o investidor desembolsa.
A questão é
que não há esse horizonte, nem a curto prazo.
O pacote que
o governo quer aplicar limita-se a cortar as despesas do governo, reconquistar receitas
perdidas, objetiva equilibrar
minimamente o orçamento, diminuir o déficit e a dívida pública. Seu efeito
imediato é desacelerar a atividade econômica.
Os otimistas
de plantão, especialmente do governo, dizem que a aplicação do pacote fará com
que a economia volte a rodar no segundo semestre deste ano.
Espero estar
enganado, mas não vejo assim. Ele não é suficiente para ativar o investimento
privado no curto prazo.
Há muitas
questões no ar.
Quais serão
as diretrizes econômicas do governo depois da aplicação do pacote?
Deixará o
intervencionismo de lado? Quais serão as regras das concessões em
infraestrutura? Qual será o plano de vôo da Petrobrás pós crise? Como se
comportará o dólar, questão crucial para a nossa balança comercial? A indústria
terá espaço para exportar, especialmente numa quadra em que o preço das
commodities no mercado internacional caiu? E a trajetória juros x inflação?
Quando o consumidor conseguirá voltar a gastar?
A lista de
perguntas poderia se estender muito mais.
O governo
reagiu a uma conjuntura desfavorável e aceitou editar o pacote para o
equilíbrio das contas públicas, entregando sua condução a Joaquim Levy, um
homem de mercado, para sinalizar que a iniciativa é séria.
Aos trancos
e barrancos o pacote será aplicado.
Mas não há
sinais de construção de uma nova estratégia econômica para o longo prazo, que
aponte para um desenvolvimento sem intervencionismos, mantidas e aperfeiçoadas as conquistas sociais já
obtidas.
Para isso,
não basta ter Levy no governo.
É preciso
repensar o modelo econômico que o governo Dilma seguiu, ancorado em
protagonismo e intervencionismo estatal, inflação elevada, juros altos, crédito
farto e subsidiado, desonerações setoriais e circunstanciais.
Tudo isso em
nome do emprego e renda, um mantra do
governo. Mas que resultou no esgotamento atual, que começa a gerar desemprego.
Como complicadores nesse quadro:
1) não há segurança sobre o desdobramento das, hoje péssimas,
relações entre o governo e o Congresso. Qual o ambiente político em que se
discutirá a adoção de medidas econômicas de fundo, além do ajuste, para
acelerar a economia do país? Redistribuir ministérios é suficiente para gerar convicções
pró-mercado e investimentos no Congresso? Este Congresso está genuinamente preocupado
com a economia?
2) O forte potencial inibidor, no curto prazo, do
redimensionamento dos investimentos da Petrobrás e seus efeitos sobre sua
cadeia produtiva;
3) Os efeitos políticos e econômicos deletérios da
operação Lava Jato, que começa a avançar
além Petrobras.
São muitos e complexos nós.
O atual governo terá condições ideológicas e políticas para superá-los
e desfazê-los?
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