O poder da mistificação

Estive uma vez no templo da Renascer, na Av. Lins de Vasconcelos, esse cujo teto desabou, para acompanhar o casamento da filha de uma ex-funcionária de minha casa. Chamou-me a atenção o sistema arrecadador de recursos. Sobre o assento havia envelopes para recolher contribuições em dinheiro, em cheques ou para o fiel autorizar o desconto em cartão de crédito. Fiquei chocado com a agressividade do método. Na Igreja Católica nunca vi nada além da passagem de bandeja ou do saquinho para as pessoas colocarem suas modestas contribuições. No fundo, é coleta de dinheiro, mas em escalas diferentes.

Me surpreende a crença das pessoas nas propostas religiosas de uma instituição como a Renascer. Sua força talvez esteja no fato dela tratar dos problemas concretos das pessoas, como falta de emprego, dívidas, a conquista da casa própria, a compra de um carro novo. Num ambiente que discute problemas como esses as pessoas devem encontrar alívio para as suas carencias, fragilidades e aflições terrenas. E não se incomodam em por a mão no bolso para colaborar financeiramente com a Igreja, sendo que a maioria dos seguidores é pobre. Exceção, é claro, de Kaká e sua família, cuja adesão me espanta mais ainda, pois deveriam ser pessoas esclarecidas.

Esses fiéis aparentemente não se abalaram com o fato dos fundadores da Renascer sofrerem processos, nem por estarem presos nos Estados Unidos por trânsito não declarado de dinheiro - o que, no mínimo, os coloca em cheque moralmente . A sede da Lins de Vasconcelos continuou cheia com os fiéis assistino à pregação deles transmitida por Internet dos EUA.

Vamos ver como reagem ao desabamento do teto desse templo, um lamentável acidente que, até quando escrevo, já registrava sete mortes. Assinale-se que a assessoria de imprensa da Renascer informou que só havia 60 pessoas no momento de desabamento, enquanto o Corpo de Bombeiros, logo em seguida, falou em 400 pessoas. Atitude estranha essa, não?

Terá sido por força do hábito de mistificar?