FUTEBOL, PAIXÃO E IMPRENSA

(Publicado originalmente na coluna Cenários do site Jornal da Comunicação Corporativa (http://www.megabrasil.com.br/) e no Blog do Serrano no site Santista Roxo (http://www.blogsantista.com.br/serrano/)


Na minha carreira profissional, aprendi que cada editoria de um jornal deve dar um tratamento específico às matérias.

Mais ou menos assim:

Política - Deve reinar o espírito de falem bem ou falem mal, mas falem de mim. Claro que fiz uma simplificação. O que quis dizer é que editoria de política deve ser acima de tudo polêmica. Com informações verdadeiras e pertinentes, é claro, mas deve-se sempre procurar estabelecer um debate de idéias, versões, propostas.

Economia – Neste espaço deve reinar a exatidão, a informação correta. O editor deve ter em mente que uma matéria favorável a uma empresa pode potencializar seus lucros e que uma errada pode levá-la à falência. Claro que caricaturei, mas em essência esse é o cuidado a tomar.

Geral – Essa é o nome antigo de uma editoria que tratava de tudo que não estava nas anteriores, mas que hoje se sofisticou e inclui tratamento específico de temas de cidade, saúde, religião, comportamento, bem estar, etc,etc. Nesse espaço devem reinar as matérias de interesse direto dos leitores do jornal, algo que lhe fale do seu cotidiano, que tanto pode ser o trânsito, como cuidar do seu coração, sendo que este último tema exige uma enorme seriedade.

Cultura – É o espaço para o debate das grandes questões da sociedade, sob a forma de teatro, cinema, música, artes plásticas, etc...Deve ter uma visão ampla, sem preconceitos, vanguardista, desafiadora.

Antes de chegar ao esporte, uma divagação interessante.

Em 1978, fiz uma viagem à Alemanha, junto com outros jornalistas brasileiros, como Roberto Pompeu de Toledo, Carlos Marchi, entre outros, em que visitamos jornais, TVs, rádios e revistas daquele país. E quase todos eles coincidiam na descrição das linhas político/ideológicas seguidas pelas editorias de suas publicações. Diziam que em política eram de centro, em economia conservadores e em cultura de esquerda.

Mas vamos ao esporte.

A editoria de esporte, na imprensa brasileira, mais especificamente nos jornais, é o lugar da paixão, onde o torcedor que saber como e para onde vai o seu clube e o que os seus ídolos estão fazendo. Um grande jogo deve ser descrito em detalhes, trazer informações que a TV e as mesas redondas não capturaram, fazer o torcedor do time vencedor se sentir no Olimpo e o do perdedor, não diria com raiva, pois este é um sentimento antiesportivo, mas com um certo desconsolo. No próximo jogo, os papéis se inverterão e assim caminharão o futebol, os torcedores e as paginas de esporte.

Pois comparem as manchetes, desta segunda-feira passada, dos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, a respeito do jogo Santos 1x São Paulo 0, realizado na Vila Belmiro, pelo Campeonato Paulista:

O Estado de S. Paulo:
Santos lava a alma com a vitória.
Ao derrotar o São Paulo, ontem, por 1 a 0, na Vila Belmiro, equipe confirma a nova fase e ainda regressa ao G4

Folha de S. Paulo:
Clássico escancara a monotonia paulista
Santos bate o São Paulo por 1 a 0 com menos de 10 mil pagantes na Vila em retrato do mais longo dos grande estaduais.

Caro leitor, sou santista roxo e este meu comentário pode estar enviesado por esta paixão de que tanto me orgulho.

Mas a manchete da Folha de S. Paulo não é broxante, cricri, completamente fora de propósito?

Onde está o encanto do futebol nela? O tema público e sucesso do campeonato pode até ser tratado e discutido, mas não na frente do espetáculo, sobrepondo-se a ele. Querem discutir a organização do futebol brasileiro? Eu também quero, mas não quero matar a paixão do futebol, que não é beisebol, vôlei, ou basquete, vive dos imprevistos, não das estatísticas, dos lances inesperados, não dos rígidos esquemas táticos, dos torcedores apaixonados pelos times desde criancinhas, não dos empresários, dos dirigentes mediocres e aproveitadores.

Cobertura de futebol exige coração, suor e lágrimas.

E querem saber de uma coisa?

Aposto que o editor de esportes a Folha é sãopaulino e fez essa manchete só para diminuir a vitória do meu Santos.