terça-feira, 17 de março de 2009

QUEM NÃO SE COMUNICA, SE ESTRUMBICA


O presidente Lula “mandou bem”, como se diz na linguagem popular, na entrevista coletiva ao lado do presidente Barack Obama, no sábado passado, após a primeira reunião entre os chefes de Estado do Brasil e dos EUA.

Foi objetivo e cuidadoso em suas palavras, transmitindo com precisão a sua mensagem, e ao mesmo tempo brincalhão, descontraindo o ambiente e fazendo Barack Obama rir, o que não é muito comum de se ver. A entrevista e a troca de cortesias e brincadeiras entre os dois fluíram bem, apesar da intermediação do intérprete. Manteve-se um “timing” dinâmico e interessante.

Ter sido o quarto mandatário a ser recebido por Barack Obama, é um reconhecimento do papel que os EUA esperam que Lula desempenhe abaixo do Equador. Muitos países da América Latina vêm derivando à esquerda, Venezuela à frente, e o Brasil tem se mostrado um ponto de equilíbrio em matéria de democracia e desenvolvimento econômico capitalista.

Pelo seu peso na região e pelo trânsito de Lula junto aos líderes latino-americanos mais radicais, caberia ao Brasil manter as coisas dentro de parâmetros aceitáveis pelo Primeiro Mundo. A esse ônus corresponderá o bônus de ser mais ouvido nos debates sobre as questões latino-americanas.

Historicamente, os EUA nunca tiveram que se esforçar muito para manter os países da América do Sul dentro da linha. Nunca houve um Plano Marshall, por aqui, para ajudar a região a se desenvolver e evitar as tentações do comunismo. O Plano Marshall nasceu para evitar que a Europa Ocidental escapasse para o comunismo depois da destruição e conseqüente pobreza provocada pela II Guerra Mundial.

Naquele momento, os partidos comunistas da França e da Inglaterra haviam saído muito fortalecidos da luta contra o nazismo e a União Soviética estava com tropas dentro da Alemanha. Para evitar que a balança pesasse para o lado dos soviéticos, os EUA investiram bilhões de dólares na reconstrução da Europa. Aqui, na América Latina, apesar da pobreza, nunca enfrentamos um momento tão dramático. E quando havia alguma ameaça considerada “comunista”, as próprias elites e as Forças Armadas locais faziam o “serviço sujo”, instauravam ditaduras e tranqüilizavam os “irmãos do Norte”.

Foi assim no Brasil, na Argentina, na Bolívia, no Uruguai e outros mais. Os únicos que escaparam foram Cuba e a Nicarágua.

Além da vertente latino-americana, há que se considerar a presença do Brasil entre os BRICS, sigla que designa os países “emergentes” - além do nosso, Rússia, China e Índia - e a próxima reunião do G-20. Nesse encontro, vai se tentar criar uma política mundial comum para o enfrentamento da crise. Não vai ser fácil.

Todo mundo concorda que é preciso criar regulação para controlar o sistema financeiro mundial, que permita que ele continue global, mas não repita os últimos excessos que levaram à crise. Mas EUA e Europa divergem sobre o grau de utilização dos recursos públicos para ajudar empresas e bancos a superarem a crise atual. Obama é a favor desses gastos, mas a Europa, França e Alemanha à frente, acham que já gastaram muito. O Brasil é a favor de mais gastos públicos (nem sempre corretos, é claro) e pode ajudar essa tese a prevalecer no encontro, arregimentando mais simpatizantes – em nome, até, de que os países de economia mais frágil não sejam tão penalizados na crise.

A visita de Lula, seu tom descontraído, foi bem registrada na imprensa norte-americana que conta, como New York Times e Wall Street Journal. O El País, da Espanha, deu uma grande matéria na página 3 de sua edição dominical sob o título “Nace la alianza Obama-Lula”. Ontem, terça-feira, Lula e seus ministros participaram de seminário, em Nova York, promovido pelo Wall Street Journal e Valor Econômico, para falar das oportunidades de investimento no Brasil neste momento a executivos das mais importantes corporações empresariais e financeiras do país.

Vejam abaixo, as matérias no New York Times, Wall Street Journal e no site da Casa Branca:
http://www.whitehouse.gov/blog/09/03/14/president-obama-a-wonderful-meeting-of-the-minds/

E o que Lula e seus ministros falaram no seminário em Nova York, e acordo com as matérias publicadas ontem pelo ValorOnline (clique aqui).


Como dizia o Chacrinha, quem não se comunica, se estrumbica, lembram-se? Pois não é o caso do governo brasileiro, neste momento.

Ressalte-se a sorte de estar sendo realizado o seminário na segunda-feira em Nova York, pois nesse dia o Merryl Linch soltou relatório em que prevê uma queda de 4,5% no PIB brasileiro em 2009.

Lula contra-atacou de imediato: "Esses bancos não acertaram nem na situação deles, quanto mais na situação do Brasil". O ministro Guido Mantega também atirou de volta: "Acho que eles estavam fazendo a análise de algum outro país, que prefiro não mencionar, e se confundiram".

Na verdade, se o PIB brasileiro não crescer mas não diminuir nada este ano em relação a 2008 já terá sido uma grande resultado, comparativamente ao resto do mundo.

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