quarta-feira, 15 de abril de 2009

OBAMA E A POLÍTICA DO POSSÍVEL

Barack Obama fez, ante-ontem, o gesto anunciado.

Abriu as comportas para visitas sem limites dos cubano/americanos a seu país natal e para o envio de dinheiro – dólares tão ansiados na ilha – para os familiares. O gesto é histórico, nem preciso repetir. Começa a descongelar uma situação que se arrasta há quase 50 anos, que não faz mais sentido depois de quase duas décadas da queda do Muro de Berlim - aquela parede de tijolo e cimento, que simbolizava a idéia da Cortina de Ferro, expressão criada pelo líder inglês Winston Churchill. Ali, a Guerra Fria começou a acabar. Mas nas relações entre os EUA e Cuba ela insistia em resistir, mesmo que residualmente, sem importância estratégica, mas incomodando profundamente a alma latino-americana.

A iniciativa de Obama é absolutamente coerente com a proposta de distensão internacional que seu governo está levando adiante, não mais encarando países como inimigos, mas movimentos terroristas, como a Al Qaeda. As tentativas de aproximação com o Irã, apesar das ameaças “atômicas” do regime lá reinante, é o maior exemplo disso. Com a retórica da aproximação, da distensão, os EUA obrigam os regimes refratários a uma boa convivência com os norte-americanos a moderarem suas posições, fragilizam posicionamentos radicais, jogam o problema para dentro do outro país.

Em relação a Cuba, a questão é parecida. Qual será a reação do regime cubano ao fim das restrições? Os cubanos deveriam ter iniciado uma distensão lenta e gradual de seu regime há muito tempo, construindo instituições que possibilitassem a democratização paulatina do regime, já que uma abertura instantânea sempre esteve fora de questão.
Mas, convenhamos, com Fidel à toda nenhuma distensão teria sido possível, não combinava com a sua história, com a linha dura que os norte-americanos sempre impuseram no seu relacionamento com a ilha..

Quem já esteve em Cuba e em Miami, como eu, tem noção do ambiente carregado que eletrizava as 90 milhas que separam a ilha do litoral da Flórida. Agora, seu irmão Raúl talvez seja empurrado para a distensão, para a superação das diferenças, desde que os EUA se disponham a dar novos passos, respeitadas as idiossincrasias cubanas, é claro. Caminhar na direção do fim do embargo será a melhor coisa que poderá acontecer para desafogar a problemática, desajustada e pobre economia cubana. Será eliminar o grilhão que sufoca o país há 45 anos.

Este é o momento da política do possível, em que os dois lados têm que colocar no horizonte o objetivo a atingir, a normalização das relações de Cuba com o hemisfério e com o mundo e trilhar o melhor caminho, para os dois países, para chegar lá. Com isso, se começará a eliminar esse incômodo anacrônico nas relações americanas. E Cuba, com a sua economia normalizada, encontrará com naturalidade o seu melhor regime político, seja à la chinesa, seja à la Ocidente. Mesmo se for à la chinesa, os EUA não convivem econômica e financeiramente com Pequim?

Eu, é claro, prefiro um regime político à la Ocidente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário