sexta-feira, 10 de abril de 2009

REFLEXÕES SOBRE A MUDANÇA DE COMANDO NO BANCO DO BRASIL

Bendine, Mantega e Lima Neto: "spreads" menores


A substituição da diretoria do Banco do Brasil (BB) recolocou um antiga questão: os gestores de um banco público podem ter autonomia ou devem seguir a orientação política do governo que é o seu sócio majoritário?

O BB sempre foi, em menor ou maior grau, agente de políticas de governo, desde sua fundação, nos tempos de D. João VI, para cobrir os gastos da corte no Brasil. Tradicionalmente, exerce as funções de fomentador da agricultura, além de ser agente de outras politicas desenvolvimentistas.

O BB passou por um longo processo até chegar à configuração atual.

Só com a criação da SUMOC (Superintendência da Moeda e do Crédito) em 1945, começou a se afastar das funções de gestor da moeda nacional, processo que culminou com a criação do Banco Central, em meados dos anos 60. Na gestão de Dilson Funaro, no Ministério da Fazenda, nos anos 80, viu ser fechada a "conta movimento", uma fonte inesgotável e injustificável de recursos para os governantes. Na presidência de FHC, foi recapitalizado com R$ 8 bihões para se reequilibrar financeiramente. Mais recentemente, em 2006, aderiu às regras do Novo Mercado da Bovespa, adotando elevado nível de Governança Corporativa.

Dentro das regras do Novo Mercado, o BB deve ter uma gestão transparente e satisfatória para os seus acionistas, que se distribuiam da seguinte forma no 4° trimeste do ano passado:

Tesouro Nacional 65,6 %
PREVI 10,4 %
BNDESPar 2,5 %

Free Float 21,5 %
Pessoas Físicas 5,8 %
Pessoas Juridicas 4,5 %
Capital Estrangeiro 11,2 %

TOTAL 100,0 %

O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, sob orientação do presidente Lula, agindo como acionista largamente majoritário, substituiu o presidente do BB, Antonio Francisco de Lima Neto, colocando-o em seu lugar Aldemir Bendine, dando-lhe a diretriz de baixar o "spread" nos juros cobrados pela instituição, de forma a forçar o mercado, através da concorrência, a seguir a mesma tendência.

A intenção do governo ao tentar baixar o "spread"é estimular a tomada de crédito pelas empresas, para ajudá-las a superar mais rapidamente a atual crise econômica. Como o concentrado setor financeiro brasileiro continua praticando "spreads" altos apesar do BC estar baixando a taxa Selic, o governo quer que o BB force o mercado para baixo, valendo-se de seu peso nele.

No entender do governo, Lima Neto não estava baixando os "spreads" do BB em uma velocidade que atendesse os seus desígnios. O ex-presidente estava fazendo uma gestão de expansão e aumento da lucratividade do banco. O lucro da instituição em 2008 registrou um crescimento de 74% em relação ao de 2007 e ficou R$ 8,8 bilhões, estabelecendo um novo recorde, sendo o maior do mercado até agora. O que deixou muito satisfeitos os seus acionistas.

A substituição de Lima Neto por Bendine foi considerada por atores da economia e da mídia econômica brasileiras uma "intromissão política" na gestão do banco. Criou temores, nesses atores, de que o PT passe ter grande influência nas decisões tomadas e que estas deixem de ter embasamento técnico/financeiro, o que seria uma volta a práticas do passado, um retrocesso, enfim.

A preocupação é válida, pois esse seria um mau passo para o BB. Mas não se deve perder de vista que boa parte desses críticos são defensores do livre-mercadismo e refratários a ação do Estado como indutor do desenvolvimento, o que é uma postura pouco condizente com as características de um economia como a brasileira. Acreditam que as regras de mercado e a diminuição da Selic farão com que os bancos diminuam os "spreads" por gravidade, esquecendo que num mercado oligopolizado as coisas não acontecem assim. E os "spreads" brasileiros são realmente os mais altos do mundo.

A atitude do governo, por sua vez, é legítima. É válido orientar o BB a agir dentro da diretriz do governo de ajudar o mercado a superar a atual crise, caracterizada principalmente pela diminuição dos fluxos de crédito. Trata-se de colocar os instrumentos do Estado nessa direção, como a maioria dos países desenvolvidos está fazendo, em um nível bem mais alto, aliás. Mais do que na saúde financeira do banco, o governo estaria mirando na retomada da economia, sem dúvida um objetivo maior.

Há quem diga que a ação do BB seria insuficiente para baixar os "spreads", que seria necessário também diminuir os volumes dos compulsórios dos bancos, as taxas incidentes sobre operações financeiras e, logicamente, continuar a baixar a Selic. Se assim é, esperemos que o governo também trabalhe nessa direção.

Diz-se, também, que ao baixar mais rapidamente os "spreads" o BB perderá lucratividade, prejudicando seus acionistas.

Pergunto: isso não poderá ser compensado pelo aumento do volume de empréstimos?

Só o tempo dirá e será preciso esperar.






Um comentário:

  1. roberto lajolo15/4/09 5:50 PM

    Concordo com o Lula e com a análise. Os tais "atores da economia" nada mais são que os "diretores" ´do filme que nos levou à atual crise. Mas continuam a opinar, como se nada houvesse acontecido e mantivessem a suposta autoridade e proficiencia. Os bancos constuituem um poder hegemonico no país; não fazem concorrência entre si; e "impõem" a lucratividade que perseguem a cada ano. Para isso dispõem de grande arsenal. É necessário forçar a baixa via concorrência, entre várias medidas tomadas ou a tomar pelo governo.
    Aproveitando o embalo, não aguento mais ouvir, repetidas vezes ao dia, os jornais da TV, economicos ou não, dar espaço a esses mesmos "atores", mais propriamente "contra-regras", para opinar sobre a crise, em especial avaliar as ações desencadeadas pelo governo. Simulacros de oráculos, imberbes e tupíniquins, com suas vistosas gravatas e verborragia.

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