
Quando eu era assessor de imprensa de imprensa de Ulysses Guimarães, durante e por um período após a Campanha das Diretas, o então presidente do PMDB fez uma viagem à NY, onde deu entrevistas à imprensa brasileira. No Jornal da Globo fez um lançamento informal de sua candidatura à Presidência, que depois foi atropelada pela derrota da Emenda Dante de Oliveira e pelo pleito indireto que escolheu Tancredo Neves. Numa entrevista à Folha, ele deu uma declaração, cujo teor não me recordo mais, em que dava uma cutucada no então governador de São Paulo, Franco Montoro, também candidato em potencial.
A Folha deu manchete. Eu, preocupado, liguei para Nova York, mesmo sabendo que iria acordar o Senhor Diretas, e li o texto para ele. Ele me pediu para ligar para o jornalista Quartim de Moraes, então Secretário de Imprensa de Montoro, desdizendo o que saíra na Folha. Telefonei para Quartim e transmiti o recado, mas tinha a absoluta convicção de que Ulysses dissera o que acabava de desmentir.
Isso se chama fazer política pela imprensa.
Lembrei dessa história ao ler no UOL que "Aécio diz que a idéia de chapa com Serra é uma grande piada", para desmentir a matéria divulgada na Folha Online, neste domingo, e pela Folha de S.Paulo, nesta segunda, informando que o governador mineiro e Serra haviam chegado a um acordo para o primeiro ser candidato a vice-presidente e o segundo a presidente, pelo PSDB, em 2010. Seria a chapa dos sonhos do PSDB, Serra e Aécio, costurada por FHC, reunindo a força eleitoral de São Paulo e de Minas.
Os textos do UOL e da Folha, assinados pelo competente jornalista Kennedy Alencar, que certamente recebeu a informação de fontes de sua confiança, já dizia que o acordo não seria confirmado agora. A reação de Aécio, portanto, parece fazer parte do jogo e Serra dirá algo parecido quando for entrevistado a respeito.
É outra manifestação de política pela imprensa.
Se a chapa dos sonhos vai acontecer ou não, será preciso esperar para confirmar. Aécio deve estar sendo muito pressionado pelos mineiros para sair candidato a presidente, em nome, entre outras coisas, da "mineiridade", um sentimento que une os nativos daquele Estado seja de que classe social ou partido político forem. Não conviria a ele entregar os pontos tão cedo, por mais convincentes que sejam os argumentos e os dados que mostrem que a candidatura de Serra tem mais fôlego do que a dele.
Mas, de qualquer modo, a notícia fica como um recado aos interessados: a união pode acontecer e todos os concorrentes, especialmente Lula, Dilma, os petistas, os PMDBs, empresários, investidores, financiadores, passam a levá-lo em conta em seus cálculos eleitorais.
O mal que afetou a saúde de Dilma Roussef reabriu a temporada de especulações sobre a candidatura petista ao Planalto, a partir da possibilidade de que a chefe do Gabinete Civil não possa concorrer. Até uma emenda pemedebista abrindo a chance de um terceiro mandato para Lula já está pronta para sair de uma gaveta e ir para os plenários do Congresso. Diante da falta de bons nomes para substituir Dilma na chapa do PT, a incumbência pode cair novamente para Lula que, constrangidamente, contra sua vontade, poderá ter que concorrer...
Se isso acontecer e não é impossível, pois em política nada é impossível, a chapa Serra e Aécio seria um bom antídoto ao peso eleitoral do presidente.
( A foto é de Milton Michida)
Interessante a análise. Nem sempre temos idéia do que está por trâs das declarações públicas de nossos políticos. Interpretá-las é uma tarefa difícil, principalmente para quem não convive diretamente com os personagens dos bastidores palacianos.
ResponderExcluirCacilda Luna
Se isso acontecer, o PSDB terá muito o que comemorar, a começar pelo triunfo do bom senso sobre os egos emplumados do partido. Ninguém aguenta mais as bicadas mútuas e a patética paternalidade de FHC, tentando corrigir as "crianças".
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