terça-feira, 26 de maio de 2009

TODO MUNDO PALPITA NAS DECISÕES DA VALE

Às vésperas do 12° Congresso Brasileiro da Comunicação Corporativa, evento da Mega Brasil, construído ano a ano pela competente dupla Eduardo Ribeiro e Marco Rossi, é interessante analisar a repercussão que os movimentos de uma grande empresa provocam na mídia.É o caso da Vale, que recentemente anunciou, diante da crise econômica mundial, que cortará R$ 5 bilhões dos R$ 14 bilhões que pretendia investir em 2009.

Não vou repetir as cifras gigantescas que envolvem a Vale e seus negócios. São conhecidas. Assim como é conhecido, também, o seu peso como geradora de negócios em sua cadeia produtiva e a enorme fatia que ocupa nas exportações brasileiras.

Mais: ela era um dos ícones entre as empresas estatais, perdendo por pouco para a Petrobras e sua privatização gerou enormes polêmicas. Em cada região que atua, segundo o seu presidente Roger Agnelli (foto) , a sociedade e os governos locais julgam que a Vale precisa exercer funções de desenvolvimento, típicas de governo, nas áreas de infraestrutura e social.

Em função disso, quando ela anuncia que deixará de investir R$ 5 bilhões está anunciando que deixará de fazer encomendas à todas as empresas que poderiam fornecer para os projetos anteriormente previstos, deixará de gerar os empregos que orbitariam em torno desses projetos, deixará de realizar obras de infra-estrutura em torno deles e deixará de pagar os respectivos impostos.

Nestes tempos de crise, é um problema e tanto. E espalha preocupação no Pais, que torce desesperadamente pelo reaquecimento da economia.

A decisão da Vale logo foi repercutida pela imprensa com o presidente Lula, na Turquia. Segundo o Valor Econômico, Lula demonstrou surpresa, dizendo que havia conversado com Agnelli 15 dias antes e ele não havia lhe falado nada sobre o corte. Disse também que não haveria motivos para corte, pois a Vale “tem muito dinheiro em caixa”. E prometeu conversar a respeito com Agnelli.

Especialistas em mineração também criticaram o corte, argumentando, entre outras coisas, que a Vale tem R$ 12 bilhões em caixa, fruto de uma oferta de papéis destinada a comprar a mineradora anglo-suiça X-Trata, negociação que não se consumou. A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas – Abimaq – cujos associados certamente venderiam equipamentos para os projetos queixou-se que a Vale “não está comprando nada”.Enfim, um sem número de stakeholders, justa ou injustamente, se julga no direito de palpitar sobre a decisão da empresa
A Vale, aparentemente, agiu compelida pela incerteza reinante na economia mundial em relação aos desdobramentos da crise. Deve ter concluído que a demanda por seu minério não alcançará os volumes projetados antes da economia norte-americana derreter, levando consigo o comércio global. No caso dela, está havendo perdas no mercado internacional – especialmente em relação à China – e no nacional, pois seus clientes aqui também são siderúrgicas que deixaram de vender lá fora boas parcelas de sua produção. Diante desse encolhimento, a empresa simplesmente resolveu segurar seus investimentos até o horizonte clarear. Simples assim, sendo bom lembrar que vários setores seguiram o mesmo receituário.

Mas nada será simples para uma empresa do tamanho e da importância da Vale. Se ela continuasse estatal certamente essa decisão não teria sido tomada, pois o governo a utilizaria como indutora de demanda., como está fazendo com a Petrobras. Sendo privada, procura preservar, acima de tudo, sua saúde econômico-financeira – condição sine qua non para gerar riquezas e, indiretamente, benefícios sociais para o País. Numa sociedade patrimonialista como a brasileira, cultiva-se a crença que a função de uma empresa é criar empregos. Ledo engano. É gerar lucros, ser sustentável, no sentido de seu negócio ser perene, e, consequentemente, gerar riquezas e empregos. Se não for assim...

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