Fernando Henrique causou surpresa quando declarou, em Comandatuba, que um partido não pode ter o impeachment como tese, só deve propugná-lo quando surgir o argumento jurídico que o sustente.
Claro, houve críticas imediatas e incompreensão por parte dos adeptos ferrenhos do impeachment.
Por que essa declaração justamente no momento em que o PSDB, inclusive seu presidente, Aécio Neves, são atraídos pela tese do impeachment?
Houve quem lembrasse que FHC ajudou a poupar Lula do impeachment no mensalão. Apostou-se em deixá-lo sangrar até as eleições de 2010 – não sangrou, pelo contrário. Estaria FHC cego ao clamor da população e dos movimentos que tomaram as ruas do país?
Logo ele que havia falado que a presidente Dilma havia perdido parte de sua legitimidade ao pôr em prática uma política econômica contrária à que havia propagandeado na campanha eleitoral?
Fiquei com a impressão que FHC tocou uma oitava acima em Comandatuba. Deu o seu recado olhando a floresta, não apenas árvores. Lançou mão de toda a sua experiência política de ex-presidente da República e partícipe privilegiado de todos os movimentos que envolveram o impeachment de Collor e a consequente posse de Itamar Franco.
Me pareceu uma brecada de arrumação.
Apesar de previsto na Constituição, impeachment não é um ato corriqueiro. Mexe profundamente com a legitimidade do sistema político. Precisa ser muito bem fundamentado do ponto de vista jurídico, não apenas político, para que o sistema mantenha e ganhe em credibilidade.
Dos pontos de vista político e moral, o petrolão, mais o mensalão, mais o estelionato eleitoral e a atual deterioração da situação econômica são motivos suficientes para jogar a maioria da população na oposição ao atual governo, como mostram as pesquisas.
Mas como mover a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, onde o governo tem bases aliadas que podem ser agradadas e seduzidas por benesses paroquiais, na mesma direção do descontentamento popular?
É simplista julgar que o PMDB seria favorável ao impeachment, com base em razões políticas, só porque o governo cairia no colo de Michel Temer. O partido já manda muito no atual quadro, graças à possibilidade do trio Temer, Cunha e Renan acuar uma presidente fragilizada.
Além disso, o Supremo Tribunal Federal não paralisaria qualquer iniciativa de propor o impeachment, mesmo dentro do Congresso, se ela não tiver lastro legal?
O horizonte político, no momento, carece de clareza.
Independentemente da questão imediata do impeachment, a oposição deveria se instrumentalizar, desde já, para as eleições de 2018 – lembrando que há os pleitos municipais em 2016.
Precisa estar preparada programática e publicitariamente para a campanha presidencial, com um discurso propositivo, eficiente e convincente que ganhe o voto dos eleitores que se decepcionaram com o populismo do atual governo e têm potencial de apoiar os seus candidatos.
Não basta ficar bradando contra o atual governo, é preciso propor o que colocar de melhor no seu lugar.
Dá mais trabalho, mas é inescapável.
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